quinta-feira, 10 de abril de 2014

km 3 - I Meia maratona de Barcelos


I Meia Maratona de Barcelos

6 abril 2014


 

 
     Quando uma lenda se torna fonte de inspiração.


    Reza a lenda que em plena época medieval, os habitantes do  burgo que é a actual cidade de Barcelos, andavam alarmados com  um crime. E mais ainda por não ter sido descoberto o criminoso. Certo dia apareceu um galego, que se dizia peregrino a caminho de Santiago de Compostela. Desde logo se tornou suspeito, foi preso e considerado o autor do referido crime. Como era comum na idade medieval foi condenado á forca.  Antes de ser enforcado pediu que o levassem perante o juíz que o condenara.  O galego voltou a reafirmar a sua inocência perante o magistrado. Reparando que sobre a mesa onde este e alguns amigos se banqueavam  estava um  galo assado, o condenado exclamou: " É  tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem". E o improvável aconteceu. Quando o galego já se encontrava com a corda ao pescoço, o galo levantou-se e cantou. Ninguém duvidava da inocência do peregrino que, depois de solto, continuou o seu caminho de peregrinação. O que parecia impossível tornou-se, porém, realidade!


     O que parecia impossível tornou-se, porém, realidade!

     É verdade que neste ano de 2014, e depois de concluídas 4 meias maratonas, o meu desempenho tem sido sempre em crescendo. Concluí a Meia Maratona de Viana do Castelo em 1h43' (sem qualquer  treino nos 2 meses que a antecederam), seguiu-se um desempenho sofrível de 1h39' na Meia Maratona da Corunha, e,  ainda por terras espanholas, terminei a  Meia Maratona d'O Carballiño  com um fantástico tempo de 1h35', o que me levou a considerar impossível fazer melhor  em futuras corridas.
       Sem conseguir especificar quais os fatores determinantes na obtenção de tão bom resultado na I Meia Maratona de Barcelos, o impossível acabou por acontecer. E porque aos olhos de Deus nada é impossível, talvez a minha visita á Igreja sita bem ao lado da linha de partida e chegada, tenha sido o tal fator determinante.
      Ás 10 horas é dado o tiro de partida pela madrinha da prova, a medalhada olímpica Fernanda Ribeiro. Cerca de 2 mil pessoas, divididas pelas 3 categorias do evento, desde a caminhada, a mini maratona de 10 km e a prova principal de 21 km partimos rumo aos nossos objetivos. A chuva molha tolos com que fomos brindados durante o aquecimento persiste em não parar. O termómetro marca 9º, o que se traduz numa excelente temperatura para correr.  O entusiasmo é o habitual das grandes corridas, enorme. Troto os primeiros metros e é altura de estudar os meus vizinhos e escolher a lebre que espero, me venha a ajudar durante a prova. Procuro alguém que apresente uma passada segura, sem sinais de grande esforço, e que possa ter alguma experiência. Mais importante ainda, que tenha um ritmo que eu consiga acompanhar. Colo-me a um atleta  vestido de vermelho ( não, não era do Benfica, apesar do grande contingente de atletas encarnados presentes no evento), óculos de sol, e relativamente jovem. Ter-se-á perguntado: quem é este gajo?  Que não me larga!
        Depois do primeiro reabastecimento líquido, e com um terço da prova nas pernas, a minha lebre começa a perder o meu contacto. Dobro o km 7 com 31'03''.  A partir daqui faço a prova praticamente sozinho. Durante alguns períodos  tenho a companhia de atletas que alcanço, ou alguns que me alcançam a mim. Mas contrariamente ao que me acontece em outras corridas, são escassos os que me alcançam, e são vários os atletas que vou ultrapassando.  Outro dado que me deixa bastante animado é o de verificar que atletas com quem habitualmente me cruzo e me levam um avanço considerável, desta vez são eles que vão atrás de mim.
        A primeira passagem pela meta deixa-me ainda com mais vontade de galgar quilómetros e terminar a prova. Tal como haviam prometido, alguns amigos marcam presença para me incentivar. Não consigo ouvir claramente, mas imagino que a pequena Carolina esteja a gritar: " Foza aí!"
        Estou satisfeito com o meu desempenho até agora, mas sou sobressaltado com a ideia de pagar mais tarde o esforço despendido com uma quebra de  ritmo. Que seja!  Mas enquanto puder vou dar o máximo. Nunca me senti tão bem em nenhuma outra prova. A passagem pelo km 14 confirma a excelente corrida que estou a fazer.   O relógio marca 1h01'21'', ou seja,  os últimos 7 quilómetros faço a um ritmo mais rápido que os primeiros , 30'18'' é o tempo deste segundo parcial.
        Não baixo o ritmo e sigo para a meta. Junto á berma encontro um atleta em dificuldades. Incentivo-o, digo-lhe que agora é tarde para desistir. Um outro que vai ao meu lado partilha da minha ideia, afinal, apenas falta o rabo segundo as suas palavras.
        Entro no quilometro final, o relógio está abaixo do minuto 30, mais propriamente na 1h 28'. Faço as contas, e terminar no minuto 33 corresponde a um novo record pessoal. Tenho 5' para gerir no último quilometro, e ainda a correr abaixo dos 4'30'' por quilometro, permite-me efetivamente conseguir novo record. A linha da meta surge mais rápido do que estava á espera, para ajudar, os últimos 100 metros são a descer. Consulto o relógio, fico incrédulo, estou sobre o minuto 32. O grupo de amigos que me esperavam,  gritam o meu nome. Os espetadores ao lado, talvez contagiados pelo entusiasmo não ficam atrás. Só ouço Paulo, Paulo, Paulo. Sinto-me como se tivesse ganho a corrida. Provavelmente mais feliz que o vencedor da prova.
        Tivesse eu partido para a prova a pensar fazer este tempo, e provavelmente não o teria conseguido, afinal, nunca pensei ser possível.
          Termino com um tempo líquido de 1h32'42''. Lugar 200 da geral, num total de 670 atletas.
         Porque não faltaram ao prometido, quero agradecer a presença in loco da família Torres. D. Paula, Sr. Carlos ( gostei do pormenor da água das Pedras), Marta, Maria, e a pequena Carolina.  E também á  D. Bio ( D. Ângela), Afonso e António. Um muito obrigado  por me  terem  deixado partilhar com eles este momento de enorme satisfação e alegria.




      Até já!