quarta-feira, 21 de maio de 2014

km 5 - IX Meia Maratona do Douro


IX Meia Maratona do Douro
 

18 de maio de 2014

 
 
 
    Por esse rio acima!
    As tartarugas, o calor e a apatia dos portugueses.


        Corrida desenfreada para o último comboio, onde somos transportados  como gado pro matadouro. Corpos que tresandam a suor. Os minutos que teimam em passar. Dificilmente chegaremos a tempo do tiro de partida. Instalo-me num pequeno canto atrás dos bancos do comboio, onde o ar que se respira é mais inodoro. De qualquer maneira, já me sinto familiarizado com esta forma de transportar pessoas, pois durante as minhas quatro visitas á Cidade do México, tive a oportunidade e a necessidade de utilizar o metro citadino, que transporta diariamente milhões de passageiros, desta forma tão pouco cívica e saudável, onde não há limite de capacidade. Quantos mais melhor.  Algures no meio desta falange de corpos nervosos e inquietos está a minha amiga Helena. Do alto do seu metro e cinquenta e três, enjaulada no meio de braços hirtos, elevados bem alto até ás barras de segurança. Imagino que não esteja a passar por uma situação deveras agradável. Na primeira vez que avisto a barragem onde terá, ou teve  inicio a corrida, transmito-lhe a informação, que só mais tarde posso confirmar: Já começou!
      Na última edição da prova, eu já me encontrava sobre a ponte junto dos milhares de atletas a aguardar o inicio da corrida, quando impacientemente ouvimos a organização informar que o tiro de partida ia ser retardado alguns minutos, porque ainda havia algumas centenas de participantes a fazer o trajeto de autocarro até á zona de partida. Este ano nem um só minutos de tolerância. Não se pode agradar a gregos e a troianos. Se o ano passado fui dos que criticou o atraso da saída, este ano critico a pontualidade, apesar de ser acérrimo defensor da maior das virtudes: pontualidade!
      Como os nossos objetivos de corrida não passam nem de perto nem de longe pelos primeiros lugares, resta-nos passar pela linha de partida para validar o chip, e fazer-mos a nossa corrida. Havia perdido o contacto com o João  enquanto aguardávamos o comboio(o João é o grande responsável pelo meu atraso;  fomos juntos para a prova, mas na hora de levantar os dorsais, o seu nome não constava na lista, não tinha comprovativo da inscrição nem do pagamento feito por parte do seu clube; e enquanto solucionava a sua situação, os minutos iam passando), mas encontro-o na zona de partida a fazer o aquecimento. Mas se a corrida já começou, que anda ele a fazer?  Vamos embora João, é para este lado! Mas ele ainda tem que ir á linha de partida para validar o chip. Agora temos á nossa frente cerca de 3000 atletas. Não há lebres, não há atletas com o nosso ritmo que nos possam ajudar. Há sobretudo demasiadas tartarugas que nos vão obrigar a um zigue zague constante para manter-mos o nosso ritmo. Aqui e ali vou soltando palavras de ordem, ou de incentivo:  Já se cansaram?  Vamos embora, lá pra frente!

Eu e as "tartarugas"

      Encosto-me á faixa da esquerda que se encontra livre e reservada para quando fizermos o retorno aos 7 quilómetros. Mas após algumas centenas de  metros  começa a ser invadida pelos atletas mais rápidos que vêm em sentido contrário. Sou obrigado a embrenhar-me de novo na multidão e a correr a espaços na diagonal. Quando passo pelo quilómetro 7 o relógio está abaixo do minuto 31 (30'55''). Não perdi assim tanto tempo, mas tive que fazer um esforço suplementar para me desviar dos outros participantes, e para vencer o calor que começa a apertar. Seguramente o termómetro esta acima dos 30º. A ausência de farmácias durante o percurso não me permite confirmar a temperatura do ar. A cada reabastecimento liquido, muno-me de duas garrafas de água. Uma para deitar pela cabeça abaixo, da outra sorvo pequenos goles de água, e o resto tem o mesmo destino da primeira. Depois da segunda ação deste género, o dorsal não resiste a tanta água, e acaba por soltar-se dos alfinetes. Meto-o dentro dos calções, porque o chip está junto, e preciso dele quando passar a linha de chegada.
      Consulto o relógio na passagem pelos 14 quilómetros ( 31'21'' nos segundos 7 km). O calor e o cansaço fazem-se sentir. Estou mais lento, mas continuo a dobrar um número considerável de tartarugas. Nesta altura da corrida, o reabastecimento já não se faz a cada 5 quilómetros, mas talvez a cada 2. Atendendo ás altas temperaturas, a aguínha vem mesmo a calhar, tal como o chuveirinho com que os bombeiros  nos brindam.
       Quando nos dirigíamos para levantar os dorsais, passamos junto á marca dos 20 km. Tinha lançado um repto, e dito ao João  que queria passar ali com 1 hora e 26 minutos. Quando já tenho quase 20 quilómetros nas pernas, e alguns litros de água na cabeça, encaminho-me para essa marca com um tempo já superior á hora e meia.

A caminho do último quilometro. Já sem o dorsal.

       Nas edições anteriores o último quilómetro compreendia uma passagem ao lado da meta, retornando numa rotunda, e os 500 metros finais eram a  subir até á linha da meta. Com grande sofrimento lá íamos trotando até ao final da prova. Com a alteração do percurso, este ano o quilómetro final tem uma grande descida e uns metros finais planos, onde a meta apenas se avista nos últimos cem.
      Quem faz uma corrida com esta exigência, com o objetivo único de terminar a prova e ansioso por alcançar a meta e viver triunfante o repto  a que se propôs, só pode esperar que o público aí presente se manifeste e receba entusiasticamente os atletas que vão chegando. Não exagero se disser que aquando da minha chegada, e de outros participantes quer á minha frente quer atrás de mim, não se ouvia um único aplauso, ou vozes de incentivo e parabéns. Que saudades tenho das corridas em Espanha. Não resisto, e como que num grito de guerra, bato palmas ergo os braços e grito:  Vamos lá acordar... Essas palmas?
       Posso ficar satisfeito com a minha prestação e esquecer a apatia do público? Posso. Mas não é a mesma coisa. Mais do que o objetivo pessoal, gosto de interagir com os demais atletas, gosto de incentivar, apoiar quando passam dificuldades, dispor-me a ajudar. E gosto, naturalmente, das manifestações do público, dos aplausos, das palavras de incentivo, do carinho para com os corredores.


       Para a estatística.

      Meia maratona número 16.
      Tempo líquido (chip): 1h35'40'' ( a 29'18'' do vencedor)
      Classificação geral: 336 (2836)
      Classificação por escalão (M35): 74


      Até já!
 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

km 4 - XVII Media Maraton de Vigo


XVII Media Maraton de Vigo
 

11 de maio de 2014

 
 
 
 




O meu 15º dorsal de uma meia maratona
 

 
     Quando somos muitos, é mais fácil!


     Tivesse acontecido no Estádio Municipal de  Balaídos, ou no Hotel Resort Pazo Los Escudos  onde a equipa do Real Madrid se encontrava hospedada, e tratava-se de uma situação perfeitamente normal. Um grupo de portugueses, envergando camisas com a bandeira de Portugal estampada, e com bandeiras nacionais nas mãos, a gritarem de forma histérica o nome dos jogadores portugueses do emblema espanhol. Mas esta manifestação de carinho não se destinavam nem ao autoproclamado  rico, bonito e super talentoso  Cristiano Ronaldo, nem ao luso-brasileiro Pepe, nem tão pouco  ao caxineiro Fábio Coentrão. Acrescento ainda que nas camisas de uma brancura imaculada, estava ainda estampado um nome. Com as cores nacionais, verde e vermelho, podia ler-se o nome: Paulo Machado. Imaginem a minha cara de surpresa quando cheguei junto deles.  Até a pequena Carolina teve direito a uma camisa de tamanho xxxxs personalizada.
       Já no ano passado, na Meia Maratona de Guimarães, a família Torres me havia surpreendido. Mas a manifestação de apoio e de carinho resumira-se a um cartaz a dizer: Força Paulo. Desta vez foram um pouco mais longe,  e naturalmente tal gesto obrigava-me a uma superação ainda maior. O objetivo passava não apenas por terminar a corrida, mas aproximar-me ou superar a marcar de 1h32' conseguida em  Barcelos.



Da esquerda para a direita: António, Nicolau, Joaquim, Paulo, Maria, Carlos, Carolina, Afonso, Marta e Paula.
     

     O contingente nacional presente em Vigo não se resumiu a estas pessoas. Também a D. Ângela se fez acompanhar da família para viver as emoções de uma meia maratona, e para me apoiar, naturalmente. Vestidos a rigor, com o respetivo dorsal, e depois de convencido o Afonso de que devia envergar a camisa cor de laranja oferecida pela organização, estavam prontos para a caminhada. Iam juntar-se ainda ás cerca  de 180 pessoas que se deslocaram de Sintra para participarem também no evento, sobretudo na caminhada, e que constituíam a quase totalidade de inscritos. A inclusão de caminhadas em eventos desta natureza não é comum em Espanha. Esta tratou-se mesmo da primeira caminhada aliada á Meia Maratona de Vigo, daí que não tenha grande adesão por parte dos espanhóis, e os poucos que   estavam inscritos, e que envergavam os dorsais referentes, encontravam-se ao longo do percurso a apoiar os atletas. Isto sim, uma pratica muito comum em Espanha, onde as pessoas saem ás ruas, e não se cansam de incentivar  e apoiar os participantes das corridas.
 
      Ainda mal refeito  da emoção que a surpresa  dos meus amigos  me provocou, junto-me aos cerca de mil atletas perfilados na linha de partida. Sem grandes nomes do atletismo espanhol, o pelotão é composto sobretudo por atletas galegos, com objetivos muito próprios, uma vez que a prova é pontuável para o campeonato galego de meia maratona. Quase não há vento, o sol esta resplandecente e a temperatura oscila os 16º.
    Antes do tiro de partida a organização pede-nos que guarde-mos um minutos de silencio em memória de duas pessoas falecidas, ligadas ao atletismo. A primeira, e porque o nome não me diz nada, já não me recordo quem era. A segunda, tratava-se do atleta vice campeão europeu de salto em comprimento nos mundiais de 1999, Yago Lamela, que , com 36 anos, foi encontrado morto em casa.
      É dado o tiro de partida, e é hora de disfrutar.  Ainda com o pequeno-almoço mal digerido, que por força das circunstâncias fui obrigado a termina-lo a pouco mais de uma hora do inicio da corrida, troto pelas ruas de Vigo, na primeira de duas voltas ao percurso. O trajeto não é muito exigente, mas algumas das subidas, apesar de muito curtas, causam mossa na maioria dos corredores. Que o diga o atleta que escolhi para lebre, que na primeira subida, não resistiu ao ritmo, e acabou por ficar para trás. Ainda olho para trás e tento avista-lo, mas convenço-me que estou por minha conta. Talvez  não tenha sido feliz com a minha escolha, apenas com 3 quilómetros percorridos, e ele já vinha a arfar ruidosamente.
       Concluo um terço da prova abaixo do minuto 31 (30'49''). Até aqui tudo bem, só há que manter o ritmo e não entrar em loucuras. É pelo quilometro 7 que julgo encontrar alguém que me vai ajudar na corrida. Passa por mim um atleta franzino, jovem, passada segura. Tento acompanha-lo, mas o ritmo é tão desconfortável para mim, que me vejo obrigado a baixar o ritmo e a deixa-lo ir. Mais tarde haveria de o ultrapassar  e terminar mesmo a corrida á frente do vencedor na categoria de júnior masculino, e que haveria de proclamar-se ainda campeão galego júnior de meia maratona.



Numa altura da corrida em que já havia ultrapassado o campeão júnior galego de meia maratona


     O final da primeira volta coincide com o final da caminhada. Esboço largo sorriso quando passo pelas pessoas que me acompanham. Com um até já, parto para a segunda volta. Passo pelo segundo parcial de 7 quilómetros, ao quilometro 14, de novo com um excelente tempo, 30'31''. Mas a nova passagem pela zona de meta, quando faltam apenas 5 quilómetros, acaba por provocar-me dificuldades. Quando passo de novo pelo meu grupo de seguidores, paro, e vou ao carrinho do Joaquim buscar a minha inseparável água das pedras. Depois disto, e apesar do Afonso se ter pontificado a correr comigo os quilómetros finais, nunca mais consegui atingir o bom ritmo com que vinha a fazer a prova. O mal acabou por ser geral, porque o Afonso depois de alguns metros diz-me que vai voltar para  trás ( o Afonso é um miúdo com 11 anos, que um dia me acompanhou num treino de 6.5 km em 34 minutos, sem parar).

A breve companhia do Afonso


    Com um pouco mais de sofrimento vou eliminando quilómetro após quilómetro. O último, porque é a descer inicialmente, e porque depois se avista a linha da meta, é devorado num ápice.  O Sr. Carlos, a cem metros da meta, entrega-me uma bandeira de Portugal. A assistência parece contagiada pelo ato, e aplaude energeticamente. Consulto o cronometro, 1h 34'. Não esta mal. E embora não tenha conseguido manter a tendência das corridas deste ano, acabei por fazer um excelente tempo, talvez a minha segunda melhor marca  das 15 meias maratonas já efetuadas. Em Barcelos subi demasiado a fasquia, e agora tenho que trotar forte se quero fazer melhor.
     O vencedor da corrida, foi um atleta já conhecido dos meus blogues, uma vez que foi o mesmo que ganhou a meia maratona  d'O Carballiño,  Daniel Bargiela Araújo.

      Para a estatística.

      Meia maratona número 15
      Tempo líquido: 1h34'09'' ( a 23'30'' do vencedor)
      Classificação geral: 204 (701)
      Classificação por escalão (veteranos I): 47 ( 131)

     Muito obrigado ás pessoas que me acompanharam, e espero que se tenham divertido tanto quanto eu.

     Até já!


Foto: Agua das Pedras.
A agua dos desportistas.
Fiel ás minhas origens