IX Meia Maratona do Douro
18 de maio de 2014
Por esse rio acima!
As tartarugas, o calor e a apatia dos portugueses.
As tartarugas, o calor e a apatia dos portugueses.
Corrida desenfreada para o último comboio, onde somos transportados como gado pro matadouro. Corpos que tresandam a suor. Os minutos que teimam em passar. Dificilmente chegaremos a tempo do tiro de partida. Instalo-me num pequeno canto atrás dos bancos do comboio, onde o ar que se respira é mais inodoro. De qualquer maneira, já me sinto familiarizado com esta forma de transportar pessoas, pois durante as minhas quatro visitas á Cidade do México, tive a oportunidade e a necessidade de utilizar o metro citadino, que transporta diariamente milhões de passageiros, desta forma tão pouco cívica e saudável, onde não há limite de capacidade. Quantos mais melhor. Algures no meio desta falange de corpos nervosos e inquietos está a minha amiga Helena. Do alto do seu metro e cinquenta e três, enjaulada no meio de braços hirtos, elevados bem alto até ás barras de segurança. Imagino que não esteja a passar por uma situação deveras agradável. Na primeira vez que avisto a barragem onde terá, ou teve inicio a corrida, transmito-lhe a informação, que só mais tarde posso confirmar: Já começou!
Na última edição da prova, eu já me encontrava sobre a ponte junto dos milhares de atletas a aguardar o inicio da corrida, quando impacientemente ouvimos a organização informar que o tiro de partida ia ser retardado alguns minutos, porque ainda havia algumas centenas de participantes a fazer o trajeto de autocarro até á zona de partida. Este ano nem um só minutos de tolerância. Não se pode agradar a gregos e a troianos. Se o ano passado fui dos que criticou o atraso da saída, este ano critico a pontualidade, apesar de ser acérrimo defensor da maior das virtudes: pontualidade!
Como os nossos objetivos de corrida não passam nem de perto nem de longe pelos primeiros lugares, resta-nos passar pela linha de partida para validar o chip, e fazer-mos a nossa corrida. Havia perdido o contacto com o João enquanto aguardávamos o comboio(o João é o grande responsável pelo meu atraso; fomos juntos para a prova, mas na hora de levantar os dorsais, o seu nome não constava na lista, não tinha comprovativo da inscrição nem do pagamento feito por parte do seu clube; e enquanto solucionava a sua situação, os minutos iam passando), mas encontro-o na zona de partida a fazer o aquecimento. Mas se a corrida já começou, que anda ele a fazer? Vamos embora João, é para este lado! Mas ele ainda tem que ir á linha de partida para validar o chip. Agora temos á nossa frente cerca de 3000 atletas. Não há lebres, não há atletas com o nosso ritmo que nos possam ajudar. Há sobretudo demasiadas tartarugas que nos vão obrigar a um zigue zague constante para manter-mos o nosso ritmo. Aqui e ali vou soltando palavras de ordem, ou de incentivo: Já se cansaram? Vamos embora, lá pra frente!
Encosto-me á faixa da esquerda que se encontra livre e reservada para quando fizermos o retorno aos 7 quilómetros. Mas após algumas centenas de metros começa a ser invadida pelos atletas mais rápidos que vêm em sentido contrário. Sou obrigado a embrenhar-me de novo na multidão e a correr a espaços na diagonal. Quando passo pelo quilómetro 7 o relógio está abaixo do minuto 31 (30'55''). Não perdi assim tanto tempo, mas tive que fazer um esforço suplementar para me desviar dos outros participantes, e para vencer o calor que começa a apertar. Seguramente o termómetro esta acima dos 30º. A ausência de farmácias durante o percurso não me permite confirmar a temperatura do ar. A cada reabastecimento liquido, muno-me de duas garrafas de água. Uma para deitar pela cabeça abaixo, da outra sorvo pequenos goles de água, e o resto tem o mesmo destino da primeira. Depois da segunda ação deste género, o dorsal não resiste a tanta água, e acaba por soltar-se dos alfinetes. Meto-o dentro dos calções, porque o chip está junto, e preciso dele quando passar a linha de chegada.
Consulto o relógio na passagem pelos 14 quilómetros ( 31'21'' nos segundos 7 km). O calor e o cansaço fazem-se sentir. Estou mais lento, mas continuo a dobrar um número considerável de tartarugas. Nesta altura da corrida, o reabastecimento já não se faz a cada 5 quilómetros, mas talvez a cada 2. Atendendo ás altas temperaturas, a aguínha vem mesmo a calhar, tal como o chuveirinho com que os bombeiros nos brindam.
Quando nos dirigíamos para levantar os dorsais, passamos junto á marca dos 20 km. Tinha lançado um repto, e dito ao João que queria passar ali com 1 hora e 26 minutos. Quando já tenho quase 20 quilómetros nas pernas, e alguns litros de água na cabeça, encaminho-me para essa marca com um tempo já superior á hora e meia.
Nas edições anteriores o último quilómetro compreendia uma passagem ao lado da meta, retornando numa rotunda, e os 500 metros finais eram a subir até á linha da meta. Com grande sofrimento lá íamos trotando até ao final da prova. Com a alteração do percurso, este ano o quilómetro final tem uma grande descida e uns metros finais planos, onde a meta apenas se avista nos últimos cem.
Quem faz uma corrida com esta exigência, com o objetivo único de terminar a prova e ansioso por alcançar a meta e viver triunfante o repto a que se propôs, só pode esperar que o público aí presente se manifeste e receba entusiasticamente os atletas que vão chegando. Não exagero se disser que aquando da minha chegada, e de outros participantes quer á minha frente quer atrás de mim, não se ouvia um único aplauso, ou vozes de incentivo e parabéns. Que saudades tenho das corridas em Espanha. Não resisto, e como que num grito de guerra, bato palmas ergo os braços e grito: Vamos lá acordar... Essas palmas?
Posso ficar satisfeito com a minha prestação e esquecer a apatia do público? Posso. Mas não é a mesma coisa. Mais do que o objetivo pessoal, gosto de interagir com os demais atletas, gosto de incentivar, apoiar quando passam dificuldades, dispor-me a ajudar. E gosto, naturalmente, das manifestações do público, dos aplausos, das palavras de incentivo, do carinho para com os corredores.
Para a estatística.
Meia maratona número 16.
Tempo líquido (chip): 1h35'40'' ( a 29'18'' do vencedor)
Classificação geral: 336 (2836)
Classificação por escalão (M35): 74
Até já!
Na última edição da prova, eu já me encontrava sobre a ponte junto dos milhares de atletas a aguardar o inicio da corrida, quando impacientemente ouvimos a organização informar que o tiro de partida ia ser retardado alguns minutos, porque ainda havia algumas centenas de participantes a fazer o trajeto de autocarro até á zona de partida. Este ano nem um só minutos de tolerância. Não se pode agradar a gregos e a troianos. Se o ano passado fui dos que criticou o atraso da saída, este ano critico a pontualidade, apesar de ser acérrimo defensor da maior das virtudes: pontualidade!
Como os nossos objetivos de corrida não passam nem de perto nem de longe pelos primeiros lugares, resta-nos passar pela linha de partida para validar o chip, e fazer-mos a nossa corrida. Havia perdido o contacto com o João enquanto aguardávamos o comboio(o João é o grande responsável pelo meu atraso; fomos juntos para a prova, mas na hora de levantar os dorsais, o seu nome não constava na lista, não tinha comprovativo da inscrição nem do pagamento feito por parte do seu clube; e enquanto solucionava a sua situação, os minutos iam passando), mas encontro-o na zona de partida a fazer o aquecimento. Mas se a corrida já começou, que anda ele a fazer? Vamos embora João, é para este lado! Mas ele ainda tem que ir á linha de partida para validar o chip. Agora temos á nossa frente cerca de 3000 atletas. Não há lebres, não há atletas com o nosso ritmo que nos possam ajudar. Há sobretudo demasiadas tartarugas que nos vão obrigar a um zigue zague constante para manter-mos o nosso ritmo. Aqui e ali vou soltando palavras de ordem, ou de incentivo: Já se cansaram? Vamos embora, lá pra frente!
Eu e as "tartarugas" |
Encosto-me á faixa da esquerda que se encontra livre e reservada para quando fizermos o retorno aos 7 quilómetros. Mas após algumas centenas de metros começa a ser invadida pelos atletas mais rápidos que vêm em sentido contrário. Sou obrigado a embrenhar-me de novo na multidão e a correr a espaços na diagonal. Quando passo pelo quilómetro 7 o relógio está abaixo do minuto 31 (30'55''). Não perdi assim tanto tempo, mas tive que fazer um esforço suplementar para me desviar dos outros participantes, e para vencer o calor que começa a apertar. Seguramente o termómetro esta acima dos 30º. A ausência de farmácias durante o percurso não me permite confirmar a temperatura do ar. A cada reabastecimento liquido, muno-me de duas garrafas de água. Uma para deitar pela cabeça abaixo, da outra sorvo pequenos goles de água, e o resto tem o mesmo destino da primeira. Depois da segunda ação deste género, o dorsal não resiste a tanta água, e acaba por soltar-se dos alfinetes. Meto-o dentro dos calções, porque o chip está junto, e preciso dele quando passar a linha de chegada.
Consulto o relógio na passagem pelos 14 quilómetros ( 31'21'' nos segundos 7 km). O calor e o cansaço fazem-se sentir. Estou mais lento, mas continuo a dobrar um número considerável de tartarugas. Nesta altura da corrida, o reabastecimento já não se faz a cada 5 quilómetros, mas talvez a cada 2. Atendendo ás altas temperaturas, a aguínha vem mesmo a calhar, tal como o chuveirinho com que os bombeiros nos brindam.
Quando nos dirigíamos para levantar os dorsais, passamos junto á marca dos 20 km. Tinha lançado um repto, e dito ao João que queria passar ali com 1 hora e 26 minutos. Quando já tenho quase 20 quilómetros nas pernas, e alguns litros de água na cabeça, encaminho-me para essa marca com um tempo já superior á hora e meia.
A caminho do último quilometro. Já sem o dorsal. |
Nas edições anteriores o último quilómetro compreendia uma passagem ao lado da meta, retornando numa rotunda, e os 500 metros finais eram a subir até á linha da meta. Com grande sofrimento lá íamos trotando até ao final da prova. Com a alteração do percurso, este ano o quilómetro final tem uma grande descida e uns metros finais planos, onde a meta apenas se avista nos últimos cem.
Quem faz uma corrida com esta exigência, com o objetivo único de terminar a prova e ansioso por alcançar a meta e viver triunfante o repto a que se propôs, só pode esperar que o público aí presente se manifeste e receba entusiasticamente os atletas que vão chegando. Não exagero se disser que aquando da minha chegada, e de outros participantes quer á minha frente quer atrás de mim, não se ouvia um único aplauso, ou vozes de incentivo e parabéns. Que saudades tenho das corridas em Espanha. Não resisto, e como que num grito de guerra, bato palmas ergo os braços e grito: Vamos lá acordar... Essas palmas?
Posso ficar satisfeito com a minha prestação e esquecer a apatia do público? Posso. Mas não é a mesma coisa. Mais do que o objetivo pessoal, gosto de interagir com os demais atletas, gosto de incentivar, apoiar quando passam dificuldades, dispor-me a ajudar. E gosto, naturalmente, das manifestações do público, dos aplausos, das palavras de incentivo, do carinho para com os corredores.
Para a estatística.
Meia maratona número 16.
Tempo líquido (chip): 1h35'40'' ( a 29'18'' do vencedor)
Classificação geral: 336 (2836)
Classificação por escalão (M35): 74
Até já!