quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

km 22 - 24 HORES D'ATLETISME de BARCELONA



24 HORES D'ATLETISME de BARCELONA
 

                  19/20 de dezembro de 2015



 
                                              "No pares. Sigue. Sigue. No pares!"
 
 
Apresentação dos atletas
 
                                                                               

        Apenas mais uma crónica de uma corrida de 24 horas!

         Vais correr uma prova de 24 horas? Então mentaliza-te que não podes parar.
         Durante 24 ininterruptas horas, passe o que passe, as tuas pernas não podem parar.
         Pode chover, fazer frio ou calor. Podes estar cansado, dorido ou desmotivado, mas as tuas pernas não podem parar.
         E eu não paro!
         Sábado, 19 de dezembro de 2015. Can Dragó, Barcelona.
         E  eu não paro!
         Soa o meio dia, e começam as duas competições mais longas da jornada, as provas de 24 e de 12 horas.
         E eu não paro.
         Pelo meio outras provas se seguem. A primeira a disputar-se é  a animada prova de eliminação, onde o último de cada volta é eliminado. A prova de 6 horas, onde são batidos 2 record, um espanhol e um internacional, é a prova onde sobressai a capacidade ultra das senhoras. 10000 metros, 5000 metros, maratona e meia maratona são as restantes categorias,
         e eu não paro.
         Mesmo quando sou obrigado a caminhar mais tempo do que o previsto,
         eu não paro.
         Mesmo quando vou á minha zona das boxes, preparo uma sandes, bebo um pouco de água,
         eu não paro.
         Mesmo quando se cumprem as 6 horas de corrida e ainda não atingi os desejados 50 quilómetros de prova,
         eu não paro.
         Mesmo quando me sinto mais cansado do que nunca. Mesmo quando as pernas não correspondem á minha tentativa de correr, e se limitam a caminhar,
        eu não paro.
        Correr 24 horas é  isto...É estar durante 24 horas a correr ou a caminhar.
        Para isto se preparam os grandes ultra-craques que têm junto de si um numeroso staff de apoio, na sua maioria familiares, mas que lhes prestam assistência durante a longa jornada.
        Mas mesmo assim...
        eu não paro.
        Mesmo quando tenho necessidade de ingerir café, e abandono a pista e o recinto desportivo para comprar um aguado copo de café no bar contíguo...
        eu não paro.
        E porque muito gentilmente o senhor que me atendeu, se pontificou a levar-me o café á pista,
       eu não paro.
       Reparo que adicionou leite ao café, como é hábito em Espanha. Saliento-lhe que pedi solo,  sin leche.
        E eu não paro,
        porque me diz que na próxima volta já terá o meu café "solo".
        Mesmo que por mais duas vezes tenha que abandonar a pista e adquirir, destas vezes duplo café solo, num local onde já sou cliente habitual,
        eu não paro.
        E corro, corro, corro.
        Caminho, e corro, corro, corro.
        Mas não paro.
 
Primeiras horas de prova
 
        Rejeito a sopa de galinha, mas aceito a massa que me oferecem os simpáticos voluntários; nomeadamente o voluntário mexicano, que com divertidos cartazes ia incentivando os atletas; e vou caminhando e comendo,
        mas não paro.
        A noite trás mais frio. As horas trazem mais cansaço. A tabela classificativa trás desmotivação. Mas mesmo assim,
         eu não paro.
         Vou na volta número...não faço ideia. Já perdi a conta ás voltas que dei. Ao meu lado, o atleta mais velho do grupo. Cheio de experiência e sabedoria, vai-se lamentando por, prova após prova, vir fazendo menos quilómetros. Soma 76 anos e  provavelmente um número de quilómetros nas pernas que a memória não consegue especificar. Mas mesmo assim, e porque me diz que esta é provavelmente a sua última prova de 24 horas, ele não para....
         e eu também não.
 
Escutando a voz da experiência
 
         E não paro...
         quando sou surpreendido na pista pelo senhor do bar: Paulo, tu café. Te regalo.
         Durante algumas voltas vou pensando neste gesto. E penso, corro, caminho e penso, mas...
        não paro.
        São 2:30h de domingo. Cumpridas 14:30h de prova. A tabela classificativa que consultei antes de me dirigir  ás boxes diz-me que levo 97 quilómetros.
        Sento-me na minha cadeira, como sempre faço, mesmo que por breves instantes.
        Mas desta vez permaneço mais tempo sentado. Faço contas de cabeça. Levo concluídos menos quilómetros do que desejava para esta altura. As minhas contas dizem-me que é impossível chegar aos números que pretendia para o final da prova. Caio em tamanha letargia e...
        ...
        ...
       paro.
       Durante uma. Duas. Três. Quatro horas e meia.
       Eu paro.
       Neste intervalo de tempo faço de tudo, menos o que mais desejava...descansar e dormir. Dormir, é impossível porque esta demasiado frio. Descansar, e porque a comodidade para o fazer não existe, está fora de questão.
       Dois dos meus vizinhos passam semelhante dificuldade. Também eles cansados, desmotivados, e longe dos seus objetivos. O primeiro, um jovem atleta francês, que tentava a qualificação para o Spartathlon, está retirado da pista com uma enorme bolha no pé. O segundo, um velho conhecido, o grande amigo José Manso, faz também um mais longo período de descanso uma vez que a corrida não lhe está a sair como desejava.
      E eu paro.
      A noite está particularmente difícil de se passar. Decido-me a ir tomar um banho e a vestir roupa mais quente e confortável. Depois de o fazer, e porque não consigo permanecer sentado vendo as horas passar, faço-me de novo á pista. A caminhar muito lentamente vou completando uma e outra volta.
     Ao fim de 8 voltas de tartaruga, chego finalmente aos 100 quilómetros.
 
 
     Sete horas da manhã e começa a raiar o dia. Nova investida ás boxes para colocar de novo a roupa de corrida, e a partir daqui
     não paro.
     Á semelhança das provas de 24 horas anteriores, este é o período em que me sinto melhor. Também, fazer 24 quilómetros em 5 horas, não é nada de extraordinário. Mas
     não paro.
     E até ás 12 horas de domingo...
     eu não paro.
     Minto. Vou fazendo pequenas paragens para comer e beber. E uma paragem obrigatória mais, alguns minutos antes de soar a buzina, para colocar a bandeira nacional sobre os ombros. Mas mesmo assim, com estas pequenas paragens,
    eu não paro.
    E quando soa a buzina, e se cumprem as 24 horas do desafio...
    ...
    ...
    ...
    ...eu paro.
    Penso em tudo e mais alguma coisa. Afinal foram 24 horas onde se faz de tudo. Conversa-se, come-se, bebe-se, descansa-se. Conhecem-se adversários, fazem-se amizades. E no final, ainda sobra algum tempo para se correr. Mas é bom que aproveites esse tempo, porque no final podes lamentar-te por não teres passado mais tempo a correr do que fizeste.
    E quando soa a buzina, nada mais conta. Se estas parado, a caminhar ou a correr, já nada importa. O que importa é a pergunta que te fazes no final. Valeu a pena? E a resposta a esta pergunta já todos a sabem...
 
 

    


    

    Sejam vocês também felizes nas pequenas coisas que fazem. E se este ano já é escasso para cumprirem os vossos desejos, aproveitem o que aí vem.
     Esta vida são dois dias, e três já passaram.

                                                   FELIZ 2016!


         
         

terça-feira, 8 de setembro de 2015

km 21 - II 24 Horas De Vigo



II 24 HORAS DE VIGO
 

29 e 30 de agosto de 2015


 
 
                                 "Tengo que ser bueno, si tanto me animan."
                                          
                                                                     Jose Manuel Conde
                                                                                                       1º lugar nas 24 horas de Vigo 2014
          


   Coisas a fazer antes de morrer:
       Correr as 24 horas de Vigo!

         Não deixa de ser estranho que dos 18  atletas presentes na prova do ano passado, 12 deles tivéssemos repetido a façanha, mesmo que o ano passado tenhamos dito que aquela era a última vez. Mais estranho ainda o fato de, com a exceção de um deles, todos tenhamos feito mais quilómetros que o ano passado.
         Pois é, Castrelos é isto. Castrelos tem esta mística sobre nós. Castrelos é mágico, é especial, é único. E as 24 horas de Vigo vai continuar a ser a prova rainha em corridas do género. Se o ano passado a organização esteve perfeita, este ano superou-se ainda mais. Se os voluntários foram simpáticos  e atenciosos, este ano foram ainda mais. E depois, todo o clima de festa, desportivismo, companheirismo, entreajuda, amizade, dedicação, esforço, em mais nenhuma outra corrida atinge o patamar que estas 24 horas nos proporcionam. Todos estes predicados são suficientes para classificar a experiência de correr esta prova; quer seja individual ou por equipas; como uma das coisas a fazer antes de morrer? Eu não tenho dúvidas. Quando estiver prestes a morrer, e me perguntar se esta vida valeu a pena, eu saberei responder: Corri as 24 horas de Vigo. Valeu a pena viver. Corri, caminhei, comi, bebi, vomitei, gritei, incentivei, sorri, suei, chorei. Senti calor, frio, dores, sede, fome, sono, medo. Mas no final estava feliz. M.u.i.t.o feliz. Mesmo quando vertia lágrimas de felicidade, que tentava disfarçar com a bandeira que tinha comigo, estava feliz. Cansado. Destroçado. Mas f.e.l.i.z.

Obrigado Castrelos! 
#24HorasSolidáriasEmVigo


        O ano passado referi que o público de Castrelos foi tão incentivador, que lhe atribuí parte da façanha que foi alcançar a quilometragem que atingi, e referi que Castrelos também correu por mim. Este ano tocava-me a mim correr por mais alguém. Não bastava fazer os 124 km do ano passado, tinha que fazer alguns mais por uma iniciativa muito especial. A campanha #24hHorasSolidariasEmVigo, cuja receita revertia a favor de uma menina de Vila Real portadora de uma doença rara, a Joaninha, acabou por atingir um patamar de participação aceitável, cujo valor final, que era de 4.75€ por quilómetro, chegou aos 772.25€. Um total de 45 pessoas aliou-se á minha causa, e todos juntos conseguimos esta bonita soma que a Joaninha vai agradecer com toda a certeza. A todos os que se juntaram a mim, amigos, familiares e anónimos. De Portugal, Alemanha e de  Espanha. Um muito obrigado!
         A Renato Lopes, Sílvia Costa, Biobrassica, Helena Mourão, Solange Cabral, Viviana Alvelos, Mafalda Alvelos, Patrícia Duarte, Daniel Cerzón, Ana Rita, Paula Sofia, Patrícia Soeiro, Isa Ouveira, Juliana Ribeiro, Eurico Barbosa, Tó Salgado, Fátima Roxo, Michael Lopes, Daniel Sousa, Lucília Roxo, Marcelo Pereira, Tiago Machado, Rogério Félix, André Martins, Sandra Chaves, Armando Carvalho, Susana Rodrigues, Juan José, Rui Borges, A.S., Pedro Videira, Carla Susana, Silvina Coelho, Cristina Cardoso, Maria Real, Liliana Adegas, Ana Silva, Carlos Henrique, Vânia Sousa, Adélia Teixeira, Tânia Onofre, Carlos Torres, Fernando Lopes, Emília Machado, um bem haja. A Joaninha agradece.
A pequena Joaninha


      Uma corrida que tu não consegues controlar.


         Correr durante 24 horas tem esta particularidade. Nunca, em momento algum, consegues controlar a corrida. E esta falta de controle sobre ela, começa muitas horas antes. Não consegues controlar as emoções que vais sentindo. Não consegues controlar a falta de sono, de apetite, e o nervosismo que precede o tiro de partida. Não consegues controlar o ritmo alto ou baixo que vais impondo volta após volta. A cada quilómetro, a cada hora, por mais contas que faças, é sempre a corrida que te vai dizer quando deves correr e qual o ritmo, quando deves caminhar, parar, descansar, comer, beber ou desistir.
         Parece confuso partir para um desafio em que por mais contas que faças, por mais objetivos  que te vais impondo de hora a hora, estes acabem sempre por nunca corresponder ás tuas espectativas. Por isso, o melhor que tens a fazer é não subir demasiado a fasquia e ir-te impondo objetivos mais curtos, que a corrida se encarregara de ir subindo até ao soar do gongo.
         E se o objetivo de chegar aos 124 km do ano passado foi conseguido pelas 18 horas de corrida, havia que partir para novos patamares. Chegar aos 140 km de Vale de Cambra. F.e.i.t.o. Novo desafio. Chegar aos 150, a distância mínima que me havia proposto antes da corrida. A.l.c.a.n.ç.a.d.o. Depois fui somando os quilómetros extras que a corrida me proporcionou, num total de mais 7. Satisfeito? Muito satisfeito, mas com uma leve sensação de que podia ter feito mais 3 quilómetros. Três míseros quilómetros que o maldito controle que a corrida exerceu sobre mim, não me permitiu alcançar. 
Obrigado Fotografos!


     Tenho que ser bom, se tanto me apoiam e animam.

     Vamos Paulo! Lo estas haciendo muy bien! Animo campeon! Escutar isto uma vez sabe bem. Escutá-lo duas vezes sabe ainda melhor. Escutá-lo volta após volta, quilómetro após quilómetro, sabe extremamente bem. Todo este carinho e simpatia começa ainda bem antes do início do desafio, quando sou recebido de forma entusiástica e carinhosa por voluntários e organizadores.  Quando tenho a oportunidade de rever e cumprimentar adversários e amigos do ano passado. É verdade que com a grande maioria fui mantendo contato, quer através das novas redes sociais, quer revendo em provas onde nos cruzamos. Quanto aos outros, passaram-se 365 dias, mas foi como se não houvesse passado um só dia desde o último encontro. Já as palavras de incentivo, foram uma constante ao longo das 24 horas. Por vezes sentia-me mesmo incomodado por ser motivo de tantos ânimos, mas só havia uma forma de agradecer tamanha dedicação, continuar a somar quilómetros, e ser bom. Tinha obrigatoriamente de ser bom,  não me restava outro remédio.
          O aproximar do meio dia está próximo, e aqui estamos nós, prontos a reviver as mesmas emoções da primeira edição e na tentativa de nos superar-mos uma vez mais e ainda mais.
         Trinta segundos para o início da corrida, e ainda alguns atletas correm á tenda para colocar o esquecido chip. Eu sou um deles.
          Diez. Nueve. Ocho. Siete. Seis. Cinco. Cuatro. Tres. Dos. Uno. Cero. Que empiece la segunda edicion de las 24 horas de Vigo!
             A partir de agora é todos juntos e cada um por si. Uns mais rápidos, e audazes.  Outros mais lentos e cautelosos. Ora agora acompanhando e incentivando o primeiro. Ora agora acompanhando e incentivando o último.  As primeiras horas correm substancialmente bem a todos. Estamos frescos, cheios de energia, e somos ambiciosos.  Horas depois, já o cansaço se faz sentir e o calor vai fazendo os seus estragos. As pernas começam a fraquejar e o cansaço é notório. Ainda antes das 6 horas de prova completo os 50 quilómetros. Geni, amiga, atleta  e  voluntária, pergunta-me que tal estou. Até agora bem, já cheguei aos 50, mas vou demasiado rápido. Tinha razão, porque quando chego ás 9 horas de prova, o cansaço, o calor, a má ou exagerada hidratação começam a fazer-me estragos. Durante cerca de uma hora tento recuperar das já afamadas náuseas que costumo sentir. Depois de recomposto, troco completamente de roupa, visto um casaco porque está frio e regresso á pista. Corro os primeiros 200 metros e sou obrigado a retirar o casaco. O suor corre-me literalmente pela rosto abaixo. Começo  a temer estar a contas com alguma enfermidade. Mas não. A alta concentração de humidade, que segundo a organização era de 95%, causam este desconforto, apesar do ligeiro frio que se faz sentir. Até ás 14 horas de prova, quer a correr, quer a caminhar, atinjo os 100 quilómetros. Na ânsia de os alcançar, talvez tenha forçado um pouco mais o andamento, o que me obriga a nova paragem mais prolongada. Desta vez  não tenho tanta  facilidade em eliminar as náuseas, e só o consigo depois de vomitar várias vezes. Talvez tenha sido o melhor que me aconteceu, porque até ao final não voltei a sentir-me indisposto.
       A noite torna-se particularmente dolorosa e difícil de enfrentar. Não há música, o som do speaker calou-se. O pouco público resistente vai dormitando. Chega o cansaço, dores musculares, que de forma bastante dolorosa mas eficaz, são atenuadas com o bom serviço da equipa de fisioterapeutas que prestam auxilio aos atletas individuais. Preferia as dores que sinto a correr, a ser submetido a tamanha e dolorosa tortura. O sono começa a apertar. Por momentos, coloco uma mão sobre as fitas delimitadoras da pista, e vou caminhando de olhos fechados, tentando apaziguar o sono.
         Vai amanhecendo e começam a surgir os primeiros raios solares. O bom ambiente regressa a Castrelos. Volta o som ambiente, regressam os incentivos, e na pista gastam-se os últimos cartuxos. Gasta-se o que resta de força e energia. Eu sinto-me particularmente bem nesta altura. Já atingi o primeiro grande objetivo, superar os 124 km do ano passado, e os dois próximos estão a caminho. Ultrapassar os 140 de Vale de Cambra, e depois alcançar uma quilometragem entre os 150 e os 160. Apesar de correr e caminhar a espaços, os períodos de corrida são feitos com grande frescura. Estranhamente não sinto dores nem sinto as pernas cansadas.
       Última  hora de prova. A 24ª hora porque valeu todo este esforço e sacrifício. A última hora é...tudo. São todas as 23 anteriores reunidas numa só. É aquela hora onde não queres parar. Por mais cansado que estejas, por mais dores que sintas não vais querer abandonar a pista. Não vais querer perder um só minuto do entusiasmo que invade  Castrelos. Todos os aplausos e incentivos que vão crescendo minuto a minuto, e que atingem o seu clímax quando se completa a vigésima quarta hora das vinte e quatro horas de Vigo. Quando, invadido em lágrimas, e coberto pela bandeira do meu país, cruzo a meta pela 157ª vez, rodeado por todos quantos me apoiaram, incentivaram, aplaudiram e acompanharam durante 24 ininterruptas horas. Abraços, lágrimas, sorrisos, aplausos, agradecimentos. Atletas a desfalecer, extasiados, cansados, destroçados,  mas felizes. Provavelmente já a pensarem na edição de 2016. Porque esta; como se diz cá na minha terra: o que é bom acaba depressa; acabou tal como começou. Nota dez.
         Para repetir?
         Se for em Castrelos, que venha 2016, 2017, 2018...2075!


Tenho que ser bom se tanto me animam!






     

 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

km 20 - 24 horas solidárias em Vigo



24 HORAS SOLIDÁRIAS EM VIGO

 Agosto de 2017






    Aproxima-se o grande desafio do ano. As 24 horas de Vigo. É já nos próximos dias 26 e 27 de agosto.  Desafio  que vou aguardando com grande espectativa e que preparei com grande afinco e dedicação durante os últimos dois meses. Este ano vou juntar mais alguns motivos de interesse á minha prestação, e quero que sejam mais as pessoas a viver comigo esta aventura. Na impossibilidade de estarem presentes in loco, ou de poderem participar juntamente comigo na corrida, dou-lhes a oportunidade de vibrar e sentir  cada quilometro meu. E se a isto juntar-mos a oportunidade de apoiar uma boa causa, o desafio torna-se ainda mais estimulante e aliciante.
       Portanto, o que pretendo é muito simples. Desafio todos os interessados a oferecer determinada quantia por cada quilometro que faça. Com um simples cêntimo, cada um de vós pode participar nesta campanha, e apoiar uma campanha solidária em prol de uma criança que sofre de uma doença rara.
       Quem pode participar?
       Todos os interessados, quer pessoas individuais, quer empresas ou instituições.
       Regras do jogo.
       Cada interessado só tem que inscrever-se, apostar uma quantia por cada quilometro, esperar pelo final da prova, contabilizar os meus quilómetros feitos e multiplicar pela quantia apostada. O resultado final será o valor a enviar para a causa solidária.
       Como podem participar?
   Basta que me enviem um correio eletrónico para passosetrotadaspelajoaninha@hotmail.com , que criei para o efeito, indicando o seu nome, morada, qual a quantia que querem pagar por cada quilometro, e eventualmente se desejam anonimato ou não. Finalizada a prova, contactarei cada um dos inscritos, indicando qual a quantia final a pagar, e a forma como podem fazer o pagamento.
       Qual a quantia com que podem participar?
       O mínimo será 1 cêntimo por quilometro, e o máximo não está estipulado. Como medida de orientação, recordo que nas minhas provas do género feitas o ano passado, fiz 124 quilómetros em Vigo, e 140 quilómetros em Vale de Cambra. Assim, como exemplo, quem oferecer 1 cêntimo por quilometro, no final da prova de Vale de Cambra, estaria a apoiar a iniciativa com 1,40€.
         Ate quando posso inscrever-me?
         Se possível, até às 24 horas de sexta-feira dia  25 de agosto. Dia prévio á corrida, para que saiba quanto poderá valer cada um dos meus quilómetros.
         A quem se destina o dinheiro angariado?
         Destina-se á pequena Joana, uma criança portadora de uma doença rara, que requer continuados tratamentos médicos, e que curiosamente reside na cidade de Vila Real, sede de distrito da localidade de onde sou natural (Pedras Salgadas). Abaixo publico um texto onde podem consultar todo o historial médico da Joaninha. Podem também aceder á sua página de facebook em  https://www.facebook.com/nicajoaninha ou no blogue http://nicajoaninha.blogspot.pt/ .
         
         O grande aliciante da iniciativa está no fato de cada um dos inscritos não saber quanto vai desembolsar no final da prova, pois esse valor sou eu que vou decidir, ou melhor, as pernas vão decidir.
          Podem acompanhar o movimento da vossa carteira e o meu desempenho a partir das 11h do dia 26 e até ás 11h de domingo dia 27, em www.championchipnorte.com .
         Qualquer dúvida, podem contactar-me através do correio eletrónico, facebook, ou através deste Blogue.
           Fico a aguardar a vossa massiva participação, e lembrar que nesta campanha cada cêntimo e cada quilómetros contam. Um cêntimo é um cêntimo, mas um quilómetros serão muitos cêntimos. Obrigado.





   Historial clínico da Joana

"A Joana, nasceu no dia 12 de Abril de 2009 no Domingo de Páscoa. Foi de imediato colocada na incubadora por problemas respiratórios. Após  o primeiro dia de vida, a Joana não mamava, tendo nos, os pais,  sido informados de que a criança tinha reflexos arcaicos, débeis e mal formações nas mãos o que poderia indicar uma cromossomopatia  - Foram feitas colheitas de sangue para despistagem da suspeita da cromossomopatia. No segundo dia de vida, foi detetada uma fratura no úmero por torção. Como a Joana tinha estado na incubadora, e só o pessoal de enfermagem e médico tinham tocado nela, a equipa médica informou -nos de que poderia ter Osteogenese Imperfeita.

Após realizados vários testes e exames de despistagem das cromossomopatias como da Osteogenese Imperfeita, ambos os resultados foram negativos. Ao sétimo dia de vida, e primeiro dia em que a Mãe pode ter ao colo a Joana, foram feitos exames de despistagem por suspeita de Sépsis, devido à episódios de temperatura elevada, tendo dado resultado negativo.

Fez Fisiatria ao décimo oitavo dia e foi alimentada por sonda até ao vigésimo segundo dia de vida. A Joana teve alta hospitalar no dia 08 de Maio de 2009.

Aos 4 meses, e após alguns episódios e visitas ao hospital por problemas diversos de sangramento bucal, foi feita uma endoscopia e Biopsia no hospital de São João no Porto, que veio a revelar que a Joana tinha Candidíase desde a língua até ao esófago, razão que originava o sangramento bucal. Esteve internada uma semana. Após um dia de ter tido alta, a Joana teve novo episódio de sangramento. Após dias de internamento e diversos exames, foi diagnosticado que a Joana tinha Refluxo Esofágico. A Joana começou a recuperar, com a exceção do seu peso. Com oito meses de idade pesava somente 5,200kg tendo sido novamente internada por má evolução ponderal. Teve alta por altura do Natal.

No dia de Carnaval de 2010, a Joana teve novo episódio de vomito  com sangue. Foi novamente internada, fez novos exames e uma nova endoscopia no Hospital de São João no Porto por suspeita de Hemorragia Digestiva Alta.

A saúde da Joana foi-se deteriorando mês após mês, já após ter tido alta do Hospitalar. Em Março de 2010 foi novamente internada com pneumonia.

Com quase um ano de vida, a Joana foi à consulta de Gastroenterologia Pediátrica, tendo-nos sido dito  que a Joana teria de parar com a medicação  por estar a inibir o estômago de produzir ácido e que tal situação iria trazer complicações/ infeções a longo prazo.

Ao fim de um ano de vida, muitas dúvidas persistiam, dúvidas da nossa  parte assim como por parte dos vários médicos que acompanharam a Joana ao longo deste tempo todo. Não existia diagnóstico para a nossa filha.

Em Maio de 2010, a Joana voltou a vomitar sangue, tendo sido marcada nova endoscopia. O resultado desse novo exame indicou que para além de Refluxo Esofágico a Joana tinha também uma Hérnia no Hiato e que necessitaria de ser operada o mais breve possível. Neste tempo de espera pela cirurgia a Joana teve novamente diversas pneumonias, cada vez mais graves, com dificuldades respiratórias, Hipoxemia, achados anormais no exame radiológico, tendo os exames de despistagem dado resultado negativo para todos os vírus pesquisados. Após mais uma semana de internamento, o estado de saúde da Joana voltou a piorar, tendo a equipa médica chegado à conclusão, que tal situação se devia à aspiração do refluxo esofágico para o pulmões.

Em junho de 2010 a Joana é operada, para resolver o problema do refluxo e do Hiato. A operação correu muito bem.

O tempo foi passando e a Joana foi submetida a nova cirurgia, mas desta vez à vista para corrigir uma situação de Estrabismo  Divergente , que lhe estava a dificultar o equilíbrio e a coordenação motora. Até ao dia de hoje, a Joana foi operada ao Esófago, ao Hiato, às Adenoides, aos Ouvidos e à Vista.   Ao longo deste tempo todo, procuramos sempre respostas para os problemas da Joana. Até à poucos dias atrás, nunca foi  feito diagnóstico para o problema de que padece. A Joana começou a dar os primeiros este ano (com 6 anos de idade), assim como mastigar alguns, poucos alimentos. A Joana não fala,  não interage com outras crianças, não caminha sozinha etc.

Ao longo destes anos, temos  procurado respostas/terapias para proporcionar uma vida melhor para a Joana. Fez CME (Cuevas Medek Exercises), Therasuit. Faz  Fisioterapia, Terapia Mio fascial, Neurofeedback, Terapia da Fala, Terapia Ocupacional, sendo que muitas destas terapias não existem no Serviço Nacional de Saúde português, somente em algumas, poucas, clínicas privadas. São terapias/tratamentos dispendiosos e  não  comparticipadas pelo Estado Português.

Para fazer face aos elevados custos mensais que têm tido com as terapias, temos   feito, ao longo dos últimos 3-4 anos,  campanhas de angariação de tampinhas de plástico (para posterior venda), rolhas de cortiça, leiloes solidários, eventos diversos para angariação de fundos, campanhas para divulgar o caso da Joana na esperança que alguém conheça casos idênticos ou iguais e na esperança que algum investigador de doenças raras se interesse pelo caso. Como é facilmente compreensível, todo este esforço que temos tido, apesar de ajudar a pagar parte de alguns tratamentos, não tem sido suficiente para fazer face à elevada carga monetária, mensalmente necessária,  para que a Joana possa usufruir destas terapias. Para além do referido, todo este trabalho , aliado ao nosso trabalho profissional e `s deslocações quase diárias para a cidade de espinho (que dista cerca de 140 km da cidade onde vivemos)  retira-nos qualidade  de vida, necessária para que a nossa atenção esteja direcionada somente para o que é necessário...o cuidado da criança. É um esforço físico e mental atroz, mas que é feito com vontade, com garra, com determinação e com fé e esperança de que alguma destas terapias tenha resultados positivos na vida da nossa filha.

Na semana em que é feita esta carta, e após termos realizado diversos contactos, via internet,  expondo a situação da nossa filha a alguns médicos, entre os quais, uma equipa de investigação inglesa  composta por médicos ingleses e Portugueses, obtivemos finalmente um diagnóstico para a Joana. Sindrome de Schaff Yang. Existem apenas 14 casos no Mundo (contando com o da Joana) sendo o segundo caso diagnosticado na Europa e o primeiro em Portugal.

Hoje sabemos com o que podemos contar para o futuro, sabemos, como sempre o soubemos, que será um futuro difícil, mas que o amor que nos une à nossa filha, será o motor para nos fazer superar cada dia que passa, com dificuldades é certo, mas também, e mais importante que tudo, com muito amor e carinho."


 


 





sábado, 25 de abril de 2015

KM 19 - Maratona de Madrid 2013



MARATONA DE MADRID
 

27 de abril de 2013

 
 
 
                                                
   Amanhã corre-se a Maratona de Madrid. Em 2013, sem qualquer treino especifico que desafios desta natureza obrigam, aventurei-me na minha segunda maratona. O resultado final não foi o mais esperado, mas as emoções foram muitas, e a aventura valeu a pena.



 

    "Quando me levanto ás 5.30h em Parla, uma localidade próxima de Madrid, estou apenas a 3h30m de viver a minha segunda maratona. Exatamente o mesmo tempo que desejo gastar na minha batalha.
Com o tranvia, sistema de transporte local, ainda encerrado, faço uma caminhada de cerca de 30 minutos até á estação de comboios de Parla, onde apanho o comboio até Atocha ( quem não se recorda dos atentados de Atocha?).

Faltam 45 minutos para o início da corrida quando chego à zona de partida em Colón ( Colombo). Ainda tenho tempo suficiente para colocar creme nas pernas, e sobretudo junto aos joelhos, antes de deixar os meus pertences no guarda roupa da organização, e fazer mais um pequeno aquecimento ( a caminhada matinal também conta). Mas o caos junto aos guarda-roupa é total. São milhares aguardando para entregar os seus sacos. O facto de atribuirem novo número, faz com que a espera seja maior. A utilização do mesmo número de dorsal teria evitado o desespero de todos os que viam os minutos passar, e a prova prestes a começar.
Finalmente consigo abandonar o caos, mas o corrida está a começar. Já não consigo chegar á zona que me está destinada, coloco-me atrás de cerca de 25 mil atletas, no momento em que é prestada homenagem ás vitimas de Boston ( 25 mil atletas formamos um circulo com o polegar e o indicador, levantando os restantes dedos criando a letra B).
A corrida começa, mas só me apercebo quando chega a minha vez de dar os primeiros passos. Passam largos minutos até conseguir passar a linha de partida, e as centenas de metros que se seguem também são feitos a um ritmo muito lento.
Estou quase a passar por um dos simbolos da cidade de Madrid. A banda colocada no local toca o tema "Zombie" dos Cranberries. Atrevo-me a cantarolar um pouco e a bater as palmas ao ritmo da música. Alguns atletas param mesmo no local a saltar como se estivessem num concerto.
Passo pelo Santiago Bernabéu e procuro em alguma das varandas José Mourinho a aplaudir os atletas. Por instantes recordo algumas frases que escutei no Vicente Calderon durante o Atlético de Madrid- Real Madrid do dia anterior : "Pepe assessino"; " José Mourinho hijo de p."
Atravesso a Avenida pio XII e reparo numa paragem de autocarros, o relógio marca 9h43', já o termómetro coloca-me a par da realidade, está demasiado frio, os 3 graus assinalados não enganam. Aqui e ali vou sentido rajadas de vento gélido que me provocam calafrios.
Desço a rua Príncipe de Vergara, a imagem que vejo diante de mim é impressionante, os milhares de atletas á minha frente formam uma enorme mancha multicolor, onde predominam o vermelho da camisa oficial da maratona, e o amarelo da meia maratona. Olho para trás e o panorama é igual de belo.
Chegamos á rua Alberto Aguilera, aqui o cordão humano perde força, os atletas da meia maratona tomam novo rumo, seguem para os 5 km finais da prova. Eu continuo rumo á gloria de alcançar uma vez mais a marca dos 42.195 metros.
Na praça Sol, o local mais central de Madrid, pois é nesta praça que está o kilómetro zero de Espanha, o panorama que me espera é simplesmente fantástico. São milhares de pessoas que enchem por completo a praça. O pequeno espaço que nos deixam para passar faz-me lembrar as chegadas em alto do Tour de França. Entre a multidão consigo avistar uma bandeira portuguesa. Recordo-me que alguns quilometros atrás tinha visto outra.
Ainda com grande frescura venço a pequena subida que me separa da marca da meia maratona. Já um dos voluntário que sobre patins vai prestando auxìlio médico aos corredores, sente grandes dificuldades em vencer a subida. Um dos atletas de câmara de filmar na mão vai registando o momento, e aproveita para entrevistar o patinador. Reina a alegria e boa disposição na prova.
É sobre o quilometro 21 que alcanço o grupo que segue os guias que correm para a marca das 3.30h. Passo a distância com 1h 40', e com apenas 2663 atletas á minha frente.
Sinto-me bem, fresco, sem dores. Consigo acompanhar o grupo até aos 25 quilometros. Mas depois de passar o rio e ao entrar na Casa de Campo, começo a sentir grandes dificuldades. Já não consigo acompanhar o grupo, vejo passar um outro que aponta para a marca das 3h.45'. Tenho de fazer uma primeira paragem para tentar ganhar forças. Faltam demasiados quilometros para chegar ao "Parque del Buen Retiro". Tenho de buscar forças não sei onde, porque quero a medalha, quero terminar.
A descida da avenida de Portugal parece funcionar como um elixir. Entro nos últimos 10 km.
Nos quilometros que se seguem persegue-me como uma assombração. Nas costas da minha camisa tenho impresso a frase:" Grita, llora, que se te caiga una uña del pie...Hazte del baño en tu short. Pero no dejes de correr." E a cada pausa minha um dos atletas grita-me que não pare, que vem lendo o que tenho escrito, e que tenho que ser exemplo. Recomeço a correr. Algumas centenas de metros mais e volto a parar. A assombração reaparece. Grita-me: " vais sonhar comigo esta noite, mas não podes parar".
É durante esta fase de maior sacrificio que escuto o meu nome. A grande presença de público, o facto de correr bem junto a eles, e o meu nome em letras grandes na camisa, fazem com que escute constantemente palavras de incentivo. Já não consigo olhar as pessoas que me nomeiam, os meus olhos estão pregados ao chão. Os minutos passam demasiado rápido, ao contrário da marca dos quilómetros que não chega nunca.
Chego finalmente á rua Alfonso XII. Faltam "apenas" 2 km. A enorme subida não me desmotiva. Mais uma vez a grande presença de público, e a próximidade que me encontro dele fazem-me lembrar as grandes conquistas dos trepadores no Tour. As palavras de incentivos são-me ditas ao ouvido. " Vamos campeones; ya queda poco; ya sois campeones".
Entro finalmente no Parque del Buen Retiro, o grande pulmão verde da capital espanhola.
Uma vez mais procuro a minha bandeira nacional, pedi a um membro do projeto "couchsurfing", que teve a amabilidade de me receber por 3 noites em sua casa, que esperasse por mim a 200 metros da meta. Avisto-o e faço uma pequena pausa para o instante fotográfico. Pego na bandeira, coloco-a ao estilo "super homem" e faço os metros finais rumo á consagração.
Presto nova homenagem ás vitimas de Boston, benzo-me, penso em todos os que me incentivaram, antes e durante a prova e passo a linha da meta com um tempo superior ao alcançado na Cidade do México.
Mas isso pouco importa, quando o objetivo de terminar a minha segunda maratona está alcançado. E mais uma vez, sem motivos para tal, choro convulsivamente.
                                                                                                                                                                                                                       

                                                      Para a minha mãe, minha fã # 1".
 
                                                            in Mensagens Aguiarenses 21 maio 2013

 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

km 18 - SANTO THYRSO ULTRA TRAIL



SANTO THYRSO ULTRA TRAIL
 

15 de fevereiro de 2015

 
 
 
                                       Há obstáculos. Há dúvidas. Há erros.
                                       Mas com trabalho duro,
                                       não há limites!
                                                
          

     Das 24 horas de Vigo para Santo Tirso.

       "2º Luís Santiago Costa, 43 anos.
      O grande prejudicado pelo sistema de classificação. Foi o atleta que completou um maior número de quilómetros, 178. Nunca o vi nas boxes. Em passo lento e ritmado, foi somando quilómetros. Acabou as últimas horas já a caminhar. Sempre me dirigiu palavras de incentivo quando nos cruzamos. Foste enorme."

                                                                          In km 12 - 24 Horas de Vigo
              
             
Quem diria que ia encontrar nesta prova um dos principais e mais combativos atletas das 24 horas de Vigo. E porque o encontro foi uma verdadeira surpresa, acabou por revelar-se mais agradável do que o esperado. É sempre bom poder cumprimentar pessoas que nos ficam na memória em algumas provas, e que num futuro reencontro se sentem tão surpreendidos e gratos quanto eu.

Luis Costa


       O mais duro desafio que entra diretamente para o Top 3.

       Não tenho qualquer dúvida em classificar esta prova, como uma das três que mais gozo me deu e de que mais desfrutei até hoje. A maratona do México e as 24 horas de Vigo, por tudo o que vivi e porque representaram as minhas estreias nas distâncias figuram naturalmente neste lote. Pela excelente organização, porque em momento algum me disse nunca mais me meto noutra, e porque os bons momentos se sobrepuseram aos maus, o Santo Thyrso Ultra Trail entra obviamente no meu top 3.



       Devagar se vai ao longe!

        Por vezes tenho dificuldade em escrever sobre desafios menos conseguidos. Outras vezes tenho dificuldade em contar os inúmeros bons momentos dos mesmos . Deste, tudo o que tenho para narrar e contar, se o tentasse  ao pormenor, só seria possível apresentando-vos um vídeo de 6:45h, onde fosse possível observar tudo o que vivi ao longo do mesmo.
        Confesso que tinha grande receio em enfrentar os 48 quilómetros da prova. Sei como as longas distâncias alteram o meu metabolismo, e me fazem passar horas de angústia e sofrimento. Sei que depois de alguns quilómetros, as minhas pernas já não respondem ás minhas exigências, e as dores e cansaço me fazem amaldiçoar o momento em que me decidi a enfrentar tamanho desafio.
         É verdade que em determinados momentos senti algumas náuseas, dores, quebra de rendimento. Mas nunca, em momento algum, senti desejo de que a meta já estivesse ao virar da esquina.  Cada passada, cada metro, cada quilómetro, foram de tamanha satisfação e prazer, que se tivesse que repetir hoje de novo a façanha, o faria sem pestanejar.
          Dizer que a prova foi excelente; que os seus voluntários foram extraordinários; que o percurso era lindíssimo; que a camaradagem entre atletas foi fantástica, é dizer o obvio, que qualquer atleta dirá depois de concluir a sua prova. Pessoalmente, não me vou alargar muito mais, e todos estes sentimentos foram unânimes. Vou apenas acrescentar algumas notas sobre determinados momentos em que fui protagonista.


           Estamos nos momentos  iniciais da prova. Estão eliminados os primeiros 2 ou 3 quilómetros. A ritmo lento, quase na cauda do cordão formado pelos   130 atletas presentes, José Sousa, um atleta com quem dividi pista nas 24 horas de Portugal, alcança-me. Então? Está tudo bem? Vais aqui tão devagar... 
          - Tenho tempo. Devagarinho, afinal tenho 10 horas para terminar.
            Tomei a decisão certa. Correr a ritmo lento, sem as correrias desenfreadas de inicio de corrida, que acabo por pagar caro mais á frente. Procurei sempre manter um trote certo, quer a subir, quer a descer até perto dos 30 quilómetros, enquanto o percurso assim o permite. Esta primeira fase da prova, funciona mais como uma injeção de quilómetros nas pernas de todos nós, para que os 20 quilómetros finais, de maior dureza, fossem mais difíceis de enfrentar. A partir dos 30, tudo se complica. As subidas são mais longas e ingremes, e as descidas mais técnicas e vertiginosas. Mas é a partir deste momento que a prova anima verdadeiramente, e nos sentimos os mais afortunados dos atletas por estar-mos a desfrutar de tão belos momentos.


         Apesar do cansaço se ir acumulando quilómetro após quilómetros, a oportunidade de observar e passar por locais tão belos e inspiradores, torna a nossa aventura um agradável sacrifício. Como foi bom conhecer a Citânia de Sanfins ( concelho de Paços de Ferreira), e o Castro do Monte Padrão a correr como uma gazela. Ultrapassar o bonito e secular carvalhal de Valinhas e o Monte Nossa Senhora da Assunção a trotar como um cavalo. E como um verdadeiro alpinista, vencer as dificuldades do "Parque Jurássico", um grande afloramento rochoso, Pilar de seu nome, que tivemos que escalar com grande dificuldade, e depois descer, ou melhor, deslizar com a ajuda de cordas. Grandes momentos de pura adrenalina. Adrenalina que foi subido ao longo da prova, e que atingiu o seu auge quando alcançamos as quedas de água da Fervença. A descida até ao rio Leça tinha tanto de belo como de perigoso. O piso estava bastante escorregadio, e um simples deslize lançava-nos para um precipício de algumas dezenas de metros. Mas depois, foram demais os bons momentos. Atravessar o rio para a outra margem com água até á cintura. Exagerado. Até aos joelhos. Abastecimento. Atravessar de novo o rio, desta vez saltando rocha a rocha. Alguns metros mais, e nova travessia. Uma pequena queda de água fazia a travessia mais difícil, mas superável. E depois havia que subir e escalar com o apoio de cordas, e sempre com o belo cenário das cascatas e o som da queda da água a inspirar-nos e a dar-nos força. Que grandes e agradáveis momentos...Tinha superado 34 quilómetros, restavam 16, mas estava ganho o dia. Até á linha de meta, o cansaço crescia, as dores aumentavam - sobretudo as dores nos joelhos e em descida - e o sobe e desce mantinha-se. Mas, ora a correr, ora a caminhar venço o desafio, um duro e aprazível desafio em 6:43h. Ainda antes de cortar a meta, olho para trás e vem o José Sousa. Paro e espero por ele. Anda lá! Estou à tua espera. Começamos juntos, acabamos juntos.


       Depois, foi esperar quase 2 horas pela chegada dos meus novos companheiros  de running. Solange Cabral, Carla Moreira e José Ribeiro...devagar se vai ao longe!

     Para a estatística:

     Ultra trail (50 km) número 1
     Tempo chip: 6:42:57h
     Classificação geral: 66º (128)
     Classificação escalão (senior M): 43º (77)

     Até já!

       

         



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Km 17 - 17ª Meia Maratona Manuela Machado






17ª MEIA MARATONA MANUELA MACHADO
 

18 de janeiro de 2015

 
 
 
                                                Se não podes ir a Castrelos,
                                                vem Castrelos ter contigo!
                                                
          


      Em Castrelos nunca corres só. Em viana também não!

      Quem vem seguindo as minhas crónicas, e quem acompanhou a minha aventura nas 24 horas de vigo, sabe como guardo dessa competição as mais belas recordações. E sabem o quanto estimo e respeito toda aquela gente que tão bem organizou a prova.
      Daí que o facto de ter encontrado grande parte dessas pessoas na meia maratona de Viana, tenha sido um belo momento para matar saudades, e saudar todos quantos tão bem me receberam e trataram em Castrelos. Apesar de um grande contingente de atletas Castrelos 20:30 se ter deslocado a Viana do Castelo, junto com mais 800 runners galegos,  ou perto disso, naturalmente que faltaram outros tantos. Mas estava ali Vidal, o grande obreiro das 24 horas de Vigo. Sevi, estafeta, voluntário e organizador, que me acompanhou no quilometro 126 de Castrelos. Sobrino, com quem dividi pista no desafio 24 horas, e que mesmo desistindo ás 16 horas de prova conseguiu superar-me na classificação final. Geni, também ela voluntária e estafeta das 24 horas, que tanto me apoiou e incentivou. E outros, que apenas recordo nomes e caras, mas com quem não privei tanto como com os nomes que referi.



        4X21 km em Viana do Castelo !

         Pela quarta vez e quando inicio o meu quarto ano de corridas, a primeira grande prova do ano acontece no norte do país. Foi assim em 2012, na minha primeira meia maratona. E foi assim nos dois anos seguintes, e volta a ser da mesma forma este ano, na minha 19ª meia maratona.
         Mais uma vez a Helena esta presente, mas este ano será cada um por si. Eu vou tentar aproximar-me da marca da última corrida. Ela vai tentar fazer melhor que no ano passado. Fazemos um aquecimento debaixo de uma chuva intensa e de muito frio. É dado o tiro de partida ás 10:30h, e já estamos molhados até ao tutano. Devido  ao problemas que tenho em hidratar-me ao longo dos desafios, este é o clima ideal para que não tenha que me preocupar com essa tarefa.
          Sinto a falta do balão que tanto me ajudou a baixar a hora e meia em Villagarcia, mas mesmo assim, sempre com um ritmo instável, tento encontrar aquele com que me sinta mais confortável. A tarefa adivinha-se árdua, porque por mais que tente, não consigo aumentar para um ritmo desejado. Aqui e ali tento acompanhar alguns atletas conhecidos. Nos primeiros quilómetros Sobrino serve-me de lebre, mas facilmente me deixa para trás. Aos 7 km alcança-me o mesmo atleta do Clube Atenas, que levava o balão em Villagarcia. Pergunto-lhe se vai para a hora e meia. Talvez um pouco  mais, esta prova é mais difícilComo na altura não tive oportunidade, agradeço-lhe por me ter ajudado a fazer 1:29h em Espanha. Tento ir com ele, mas hoje não estou nos meus dias. O mesmo ritmo que alguns meses atrás não tive dificuldade em acompanhar, hoje revela-se impossível de alcançar.
            Sempre que sou alcançado por um atleta de Castrelos, vou soltando um vamos castrelos, animo. Alcança-me mais um grupo, e entre eles vem um elemento que tão bem reconheço. Vamos Sevi, tira palante! Também este grupo eu tento acompanhar, mas não c.o.n.s.i.g.o. Desisto de tentar um ritmo mais elevado, e mantenho o que me é mais confortável. Chego á linha de meta e paro o cronometro que marca 1:33:44h.
            Termino o desafio meio satisfeito com o meu desempenho, mas muito satisfeito por ter encontrado tantos amigos numa só prova. E Castrelos 20:30, nunca correram sozinhos em Viana do Castelo!




      Para a estatística:

      Meia maratona número 19 
      Tempo líquido (chip): 1h33'44'' 
      Classificação geral: 674 

      Classificação por escalão: 169
 
       Até já!