sábado, 25 de abril de 2015

KM 19 - Maratona de Madrid 2013



MARATONA DE MADRID
 

27 de abril de 2013

 
 
 
                                                
   Amanhã corre-se a Maratona de Madrid. Em 2013, sem qualquer treino especifico que desafios desta natureza obrigam, aventurei-me na minha segunda maratona. O resultado final não foi o mais esperado, mas as emoções foram muitas, e a aventura valeu a pena.



 

    "Quando me levanto ás 5.30h em Parla, uma localidade próxima de Madrid, estou apenas a 3h30m de viver a minha segunda maratona. Exatamente o mesmo tempo que desejo gastar na minha batalha.
Com o tranvia, sistema de transporte local, ainda encerrado, faço uma caminhada de cerca de 30 minutos até á estação de comboios de Parla, onde apanho o comboio até Atocha ( quem não se recorda dos atentados de Atocha?).

Faltam 45 minutos para o início da corrida quando chego à zona de partida em Colón ( Colombo). Ainda tenho tempo suficiente para colocar creme nas pernas, e sobretudo junto aos joelhos, antes de deixar os meus pertences no guarda roupa da organização, e fazer mais um pequeno aquecimento ( a caminhada matinal também conta). Mas o caos junto aos guarda-roupa é total. São milhares aguardando para entregar os seus sacos. O facto de atribuirem novo número, faz com que a espera seja maior. A utilização do mesmo número de dorsal teria evitado o desespero de todos os que viam os minutos passar, e a prova prestes a começar.
Finalmente consigo abandonar o caos, mas o corrida está a começar. Já não consigo chegar á zona que me está destinada, coloco-me atrás de cerca de 25 mil atletas, no momento em que é prestada homenagem ás vitimas de Boston ( 25 mil atletas formamos um circulo com o polegar e o indicador, levantando os restantes dedos criando a letra B).
A corrida começa, mas só me apercebo quando chega a minha vez de dar os primeiros passos. Passam largos minutos até conseguir passar a linha de partida, e as centenas de metros que se seguem também são feitos a um ritmo muito lento.
Estou quase a passar por um dos simbolos da cidade de Madrid. A banda colocada no local toca o tema "Zombie" dos Cranberries. Atrevo-me a cantarolar um pouco e a bater as palmas ao ritmo da música. Alguns atletas param mesmo no local a saltar como se estivessem num concerto.
Passo pelo Santiago Bernabéu e procuro em alguma das varandas José Mourinho a aplaudir os atletas. Por instantes recordo algumas frases que escutei no Vicente Calderon durante o Atlético de Madrid- Real Madrid do dia anterior : "Pepe assessino"; " José Mourinho hijo de p."
Atravesso a Avenida pio XII e reparo numa paragem de autocarros, o relógio marca 9h43', já o termómetro coloca-me a par da realidade, está demasiado frio, os 3 graus assinalados não enganam. Aqui e ali vou sentido rajadas de vento gélido que me provocam calafrios.
Desço a rua Príncipe de Vergara, a imagem que vejo diante de mim é impressionante, os milhares de atletas á minha frente formam uma enorme mancha multicolor, onde predominam o vermelho da camisa oficial da maratona, e o amarelo da meia maratona. Olho para trás e o panorama é igual de belo.
Chegamos á rua Alberto Aguilera, aqui o cordão humano perde força, os atletas da meia maratona tomam novo rumo, seguem para os 5 km finais da prova. Eu continuo rumo á gloria de alcançar uma vez mais a marca dos 42.195 metros.
Na praça Sol, o local mais central de Madrid, pois é nesta praça que está o kilómetro zero de Espanha, o panorama que me espera é simplesmente fantástico. São milhares de pessoas que enchem por completo a praça. O pequeno espaço que nos deixam para passar faz-me lembrar as chegadas em alto do Tour de França. Entre a multidão consigo avistar uma bandeira portuguesa. Recordo-me que alguns quilometros atrás tinha visto outra.
Ainda com grande frescura venço a pequena subida que me separa da marca da meia maratona. Já um dos voluntário que sobre patins vai prestando auxìlio médico aos corredores, sente grandes dificuldades em vencer a subida. Um dos atletas de câmara de filmar na mão vai registando o momento, e aproveita para entrevistar o patinador. Reina a alegria e boa disposição na prova.
É sobre o quilometro 21 que alcanço o grupo que segue os guias que correm para a marca das 3.30h. Passo a distância com 1h 40', e com apenas 2663 atletas á minha frente.
Sinto-me bem, fresco, sem dores. Consigo acompanhar o grupo até aos 25 quilometros. Mas depois de passar o rio e ao entrar na Casa de Campo, começo a sentir grandes dificuldades. Já não consigo acompanhar o grupo, vejo passar um outro que aponta para a marca das 3h.45'. Tenho de fazer uma primeira paragem para tentar ganhar forças. Faltam demasiados quilometros para chegar ao "Parque del Buen Retiro". Tenho de buscar forças não sei onde, porque quero a medalha, quero terminar.
A descida da avenida de Portugal parece funcionar como um elixir. Entro nos últimos 10 km.
Nos quilometros que se seguem persegue-me como uma assombração. Nas costas da minha camisa tenho impresso a frase:" Grita, llora, que se te caiga una uña del pie...Hazte del baño en tu short. Pero no dejes de correr." E a cada pausa minha um dos atletas grita-me que não pare, que vem lendo o que tenho escrito, e que tenho que ser exemplo. Recomeço a correr. Algumas centenas de metros mais e volto a parar. A assombração reaparece. Grita-me: " vais sonhar comigo esta noite, mas não podes parar".
É durante esta fase de maior sacrificio que escuto o meu nome. A grande presença de público, o facto de correr bem junto a eles, e o meu nome em letras grandes na camisa, fazem com que escute constantemente palavras de incentivo. Já não consigo olhar as pessoas que me nomeiam, os meus olhos estão pregados ao chão. Os minutos passam demasiado rápido, ao contrário da marca dos quilómetros que não chega nunca.
Chego finalmente á rua Alfonso XII. Faltam "apenas" 2 km. A enorme subida não me desmotiva. Mais uma vez a grande presença de público, e a próximidade que me encontro dele fazem-me lembrar as grandes conquistas dos trepadores no Tour. As palavras de incentivos são-me ditas ao ouvido. " Vamos campeones; ya queda poco; ya sois campeones".
Entro finalmente no Parque del Buen Retiro, o grande pulmão verde da capital espanhola.
Uma vez mais procuro a minha bandeira nacional, pedi a um membro do projeto "couchsurfing", que teve a amabilidade de me receber por 3 noites em sua casa, que esperasse por mim a 200 metros da meta. Avisto-o e faço uma pequena pausa para o instante fotográfico. Pego na bandeira, coloco-a ao estilo "super homem" e faço os metros finais rumo á consagração.
Presto nova homenagem ás vitimas de Boston, benzo-me, penso em todos os que me incentivaram, antes e durante a prova e passo a linha da meta com um tempo superior ao alcançado na Cidade do México.
Mas isso pouco importa, quando o objetivo de terminar a minha segunda maratona está alcançado. E mais uma vez, sem motivos para tal, choro convulsivamente.
                                                                                                                                                                                                                       

                                                      Para a minha mãe, minha fã # 1".
 
                                                            in Mensagens Aguiarenses 21 maio 2013

 

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