segunda-feira, 27 de outubro de 2014

km 14 - BMW Frankfurt Marathon



BMW Frankfurt Marathon


27 de outubro de 2013

 
 
 
 
 
 
I call you when I need you, my heart's on fire.
You come to me, come to me wild and wired.
Oh, you come to me, give me ev'rything I need.

Give me a life time of promises and a world of dreams.
Speak the language of love like you know what it means.
Mm, and it can't be wrong, take my heart and make it strong, babe.
You're simply the best. better than all the rest,
Better than anyone, anyone I ever met.
I'm stuck on your heart,I hang on ev'ry word you say.
Tear us apart; baby, I would rather be dead.

I see the start of every night and every day.
In your eyes I get lost, I get washed away.
Just a long here in your arms I could be in no better place.
You're simply the best. better than all the rest
Better than anyone, anyone I ever met.
I'm stuck on your heart,I hang on ev'ry word you say.
Tear us apart; baby, I would rather be dead.

Each time you leave me I start losing control.
You're walking away with my heart and my soul.
I can feel you even when I'm alone,
Oh, baby, don't let go.
You're the best, better than all the rest.
Better than anyone, anyone I ever met.
I'm stuck on your heart

Better than all the rest.
Better than anyone, anyone I ever met.
I'm stuck on your heart
I hang on ev'ry word you say.
Tear us apart
Baby I would rather be dead.
Oh you're the best.
 
                                                                   The Best-Tina Turner


Saves energy, do not keep time. The battle is long, finish the race is our victory

         Interrompo uma vez mais a cronologia lógica das minhas crónicas, e, á semelhança do que fiz no km 11, vou recordar e partilhar  convosco um dos mais belos momentos por mim vividos, trotando sobre o asfalto.  A aventura que convosco vou partilhar, aconteceu á precisamente um ano na cidade de Frankfurt onde realizei a minha terceira maratona. A crónica foi por mim escrita, alguns dias depois, e publicada num jornal regional, o extinto Mensagens Aguiarenses.





"DANKE PAULO MACHADO


 
"Portugal! Cristiano Ronaldo!" Poderia ter sido este um dos episódio mais marcante da minha corrida, quando já em plena segunda metade da prova, um miúdo gritou á minha passagem tal expressão. Mas não. Apenas alguns metros mais atrás, um outro miúdo, de mão esticada, e saudando os atletas mais ousados que fraternalmente "chocavam" na mão do petiz, ia agradecendo pessoalmente cada gesto. Já não consigo fazer um retrato robô da cara dele, mas recordo o seu semblante triste, e que maquinalmente e de forma pausada ia dizendo: "Danke Thomas! Danke Paulo!"( Obrigado Thomas!Obrigado Paulo!). Talvez seja o típico rosto alemão. Fechado e frio. Ou talvez o semblante do miúdo fosse o reflexo do rosto de milhares de atletas, que , apesar da felicidade, alegria e satisfação interiores, apenas deixavam transparecer sofrimento, dor, mágoa. Rostos distorcidos pelo cansaço e pela dor, que apenas conseguem esboçar pequenos sorrisos por breves instantes. Corpos que se arrastam, que vão vencendo a vontade de desistir quilómetro após quilómetro. Mentes que se superam, e no meio de tanta dor e de tanto sofrimento, vão lutando por alcançar o fim a que se propuseram. Felicidade que é exteriorizada quando surge a meta, e se levantam braços, içam bandeiras, se felicitam outros atletas, se dão pulos de êxtase ou se vertem lágrimas de alegria.

Falta um minuto para o despertador do telemóvel tocar. Desligo-o, porque já não preciso que ele me desperte. A mudança de hora, a noite mal dormida, e o nervoso miúdinho fizeram questão de me despertar há já largos minutos.

O apetite ainda não é muito quando o relógio marca apenas alguns minutos depois das 7 da manhã. Sofregamente vou comendo uma taça de cereais com iogurte, algumas nozes e avelãs. Preparo café. Acompanho com fatias de pão com nutella. Enquanto aguardo o despertar do meu primo Michael, vou colocando na mochila o essencial para a corrida. Desde o relógio, água das Pedras (é a única água que consigo beber quando sinto náuseas), cremes, uma banana, e a bandeira de Portugal, para elevar bem alto se conseguir chegar á linha de meta.

Ás 9 horas, tal como tinhamos combinado no dia anterior, saímos de casa. Apanhamos o metro na estação de Lokalbahnhof ,onde tal como nós, um pequeno número de atletas aguarda a chegada do metro. Na estação de Hauptbahnhof mudamos de linha, e aqui o número de loucos que vão enfrentar os 42 quilómetros aumenta substancialmente. Chegamos á estação final, e subimos á Frankfurt Messe ( feira de Frankfurt) local de partida da BMW Frankfurt Marathon.

O grande aglomerado de atletas espalhados pelo local vai resistindo ao frio que se faz sentir. O termómetro marca 17 graus, mas o vento forte que vai soprando nesta zona da cidade faz com que o frio seja mais difícil de suportar. Faço um pequeno aquecimento de cerca de 10 minutos, mais para afastar o frio e espalhar o nervosismo do que propriamente para aquecer os músculos. Juntam-se a nós a Sílvia e o Renato. Está reunido o trio que me vai acompanhar e incentivar ao longo do desafio.

São 10h30' quando é dado o tiro de partida para os atletas de elite. O grande contingente queniano e etiope ( Quénia com 5 atletas no top 5. Top 10 completo com mais 2 quenianos, 2 etiopes e 1 francês), parte á conquista do asfalto. Ouço as últimas palavras de incentivo das pessoas que me acompanham. Faço pose para as últimas fotos. Não sinto o mesmo nervosismo da maratona de estreia. Sinto um misto de confiança e ansiedade, e a adrenalina habitual de quem está prestes a viver a grande paixão dos últimos 2 anos.

Levantam-se braços e batem-se palmas quando ás 10h37' é dado o tiro de partida para os restantes 15 mil atletas. Semi-profissionais, amadores, novos, velhos, alemães, estrangeiros, estreantes, veteranos. Todos partem com um e mesmo fim, conquistar as ruas de Frankfurt am Main.

Inicio também eu a minha investida rumo á meta. Está mesmo aqui ao lado, mas pela frente tenho um caminho tão longo e tão árduo. Os primeiros quilómetros são feitos com forte vento a dificultar-nos a tarefa. Estão galgados os primeiros 4 kms quando esboço o primeiro sorriso. Não consigo evitá-lo quando passo por uma bandeira mexicana. Afinal foi no México onde tudo começou. Ironia do destino, a segunda bandeira que identifico é a nossa. Chamo a atenção do grupo que a exibe, e agradeço o incentivo e os aplausos.

Aproximo-me com grande frescura do primeiro ponto de encontro com a minha falange de apoio. Acontece pouco depois do quilómetro 13, sobre a ponte Alte Brücke ( ponte velha). Numa altura em que começa a chover passo pelos meus primos. Algures sobre a ponte está a Silvia a fazer o registo fotográfico da minha passagem. Esboço um sorriso para a objetiva. Passo pela marca do km 14 e reparo que o gps do meu relógio se mantem na marca dos 9.3 kms. As grossas nuvens não permitem que receba o sinal do satélite, em contrapartida estas brindam-nos com uma forte chuvada que se mantém por breves quilómetros.

Venço a primeira metade da prova em 1h38'. Ainda não sinto sinais de fadiga, apesar do meu ritmo ter vindo a baixar gradualmente. Olho para o relógio quando passo pelo km 24. Não consigo ver o meu tempo de passagem. Também a função cronómetro do relógio deixou de funcionar. Fico sem referências de tempo. Consigo orientar-me pelos relógios que a organização coloca ao longo do percurso, a que tenho que subtrair os 7 minutos com que os elites saíram antes de nós.

Chegamos á localidade de Höchst, segundo ponto de encontro com os meus acompanhantes. Aqui está concentrado um grande número de espetadores. Vou saudando alguns miúdos que de mão esticada ficam felicíssimos por corresponder ao seu pedido. "Danke Paulo!", dispara um deles, de olhar triste. Olho para trás, mas já é tarde de mais para agradecer tão belo gesto. Quando olho para a frente vejo um outro miúdo extasiado, a saltar e a gritar: " Portugal! Cristiano Ronaldo!" Penso no contraste dos momentos. Um rapazinho triste que grita o meu nome e um outro felicíssimo que grita o nome do meu país e do futebolista que faz a delícia de milhares de crianças.

Solicito água das pedras quando chego junto dos meus primos. Bebo um trago e abandono a garrafa verde no passeio. O meu primo Michael coloca-se a meu lado para me acompanhar durante alguns quilómetros. Faltam cerca de 14 para o final. Trocamos algumas palavras e conto-lhe os episódios das crianças. Apesar de correr a um ritmo mais lento, o meu primo não me consegue acompanhar. Abandona-me perto do km 31, junto a uma paragem do elétrico. Estou de novo só quando ouço um atleta a meu lado perguntar: "Então, tudo bem?" Trocamos algumas palavras, e diz-me que também ele é português e que reside em Frankfurt . A bandeira que fiz questão de imprimir na camisa não levanta dúvidas quanto á minha nacionalidade. Já quanto á mensagem também impressa, ninguém faz referência, mas espero que sirva de incentivo a todos os que colocam a hipótese de desistir (" Saves energy, do not keep time. The battle is long, finish the race is our victory"-Guarda energia, não guardes tempo. A batalha é longa, terminar a corrida é a nossa vitória). Digo-lhe que estou no limite e já demasiado cansado. Encoraja-me e diz-me que estamos quase a entrar no centro da cidade, local de concentração de milhares de pessoas que nos vão levar ao colo até á meta.

Grande surpresa quando passo o km 33 e o Michael está de novo á minha espera para me acompanhar. Diz-me que se sente melhor agora, ou será que sou eu que vou demasiado lento? Vivo as últimas emoções da corrida. Estou já demasiado débil, a passada é lenta e curta. Os minutos passam a correr. Estou sobre as 3 horas de corrida quando encontramos de novo o Renato. Sorvo um pouco mais de água das pedras. Apesar da insistência do meu primo em me acompanhar mais algum tempo, digo-lhe que agora vou sozinho. Preciso de fazer uma pausa, e não quero mostrar fraqueza perante ele. Abandono-os, e um jovem espetador lembra-me que faltam apenas 6 kms. Estas palavras de incentivo funcionam como energia extra. Também repito para mim que faltam apenas e só 6 míseros kms. A 5 do final tomo nova dose de energia. Sobre a marca dos 37 kms um speaker grita: " From Portugal, Paúlo"! Não resisto a levantar os braços, a agradecer os aplausos e esboçar um sorriso pela pronúncia do meu nome.

Ultrapasso mais 1 km quando surge o inesperado. Paro para vomitar. Situação que ocorre no final de provas mais longas e duras, e que hoje foi antecipada em 3 kms. Venço as náuseas e retomo o meu rumo. É tarde demais para desistir. Nem coloco isso em causa, a meta está ao virar da esquina e o meu pensamento está fixado na glória de a alcançar. Sou acordado dos meus pensamentos por uma respiração ofegante, ruidosa, um ressonar acordado. Olho para o meu lado esquerdo e vejo um "armário" de quase 2 metros, trajando apenas o que me parecem ser uns boxers com o respetivo dorsal afixado. Os olhares de quantos se encontram a ver a corrida também estão virados para ele.

Chego aos últimos quilómetros do desafio. Nesta zona sopram rajadas de vento fortíssimas da direita que nos arrastam literalmente para o lado esquerdo da via. Entro na reta que precede a entrada no pavilhão onde esta a meta. Procuro os meus primos para receber a minha bandeira. Entro no Frankfurter Festhalle, uma enorme sala, onde habitualmente se realizam concertos . O cenário é bem ao estilo Hollywoodesco. Passadeira vermelha, jogo de luzes e Tina Turner a cantar " Simply the Best". O speaker vai agradecendo a chegada dos atletas. "Obrigado" . Consigo ouvir em bom português. Seguem-se palavras em alemão que só mais tarde consigo traduzir :" Ein Portugiese! Herzlich willkommen!" ( Um português! Bem vindo). A emoção é enorme, a alegria é gigantesca. Levanto bem alto a bandeira, o relógio marca 3h52' ( 3h 44', tempo líquido). Consigo o meu record por um escasso minuto. Não resisto a derramar as habituais lágrimas de felicidade quando ultrapasso a linha de meta.

Foram 3h44' de pura adrenalina, de grande prazer, felicidade, alegria. Com fortes doses de sofrimento e de dor. Mas este momento ninguém me tira. O momento de passar a linha de chegada é único e inigualável.

Encontro de novo o português com quem falei durante a corrida. Apenas consigo dar-lhe os parabéns, não me sai mais nada. Quero chegar junto dos meus acompanhantes. Quero dividir também com eles a minha alegria e a minha conquista. Esta corrida é deles também, que foram incansáveis ao longo do percurso. VIELEN DANK!

Para a Sílvia, o Renato, o Michael. Para os meus pais e todos os que acompanham as minhas aventuras."

                                 In Mensagens Aguiarenses ,19 novembro 2013



      Para a estatística:

      Maratona número 3
      Tempo líquido (chip): 3h44'33''
      Classificação geral: 4291
      Classificação masculina: 3912
      Classificação categoria (M35): 650



     Até já!