terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Km 16 - 2014, um ano de trotadas de A a Z


2014
Um ano de trotadas de A a Z
(e com fotos)
Amigos. Foram muitos os que adicionei ao meu circulo, sobretudo após as 24h de Vigo. São de facto os únicos triunfos de todos os desafios. Também importantes, foram todos aqueles que estiveram presentes em algumas corridas, Barcelos, Vigo, Vale de Cambra, Braga. Esta crónica é para eles, porque se vão identificar mesmo não mencionando nomes.


Barcelos. Na primeira meia maratona de Barcelos vivi a primeira grande satisfação do ano, após cruzar a meta com um tempo de 1h32'. Na altura correspondeu ao meu melhor tempo em meias maratonas.

 
Castrelos. É o nome do parque em Vigo onde se realizou a inesquecível prova de 24 h. Castrelos 20:30 é também o nome do grupo de atletas que organizaram de forma soberba, exemplar, perfeita, sensacional, a mais formidável prova de 2014. Enhorabuena José Vidal Rial e os teus pupilos.
 
 
Desistir. Palavra que continua fora do meu vocabulário. Nunca aconteceu, mas na meia maratona de Coimbra abdiquei dos 21 km, e fiquei pelos 10 da mini maratona. Com maiores ou menores dificuldades, sempre alcancei as linhas de chegada.

 
Espanha. No país vizinho as provas são mais populares. Não há prémios monetários. As inscrições são mais baratas. E o público que assiste ás provas é em grande número e não se cansa de aplaudir, incentivar e interagir com os atletas. Das 20 provas deste ano, 5 foram em Espanha.

 
Fotos. São os registos que vão ficar para a posteridade. Todos nós gostamos de nos ver num grande número de fotos. Em duas provas estive do outro lado, e registei a passagem dos atletas, na meia maratona das areias, em Gaia, e na meia maratona de Coimbra. Também desse lado senti uma satisfação enorme. E graças aos fotógrafos podemos guardar pequenos fragmentos das nossas histórias. Agradeço aos fotógrafos as fotos que me permitem ilustrar esta crónica.



Gonzalez. José Manuel Conde Gonzalez. Venceu as 24 h de Vigo. Um exemplo, uma força da natureza. Com 70 anos venceu de forma categórica a prova e fez jus ao ditado que diz: Velhos são os trapos!

 
Helena Mourão. A mulher pequenina, como foi carinhosamente apelidada por uma jovem espetadora numa prova, deixou-me acompanha-la em grande parte dos desafios, sobretudo nos do circuito nacional de montanha, onde ela tinha um título a defender. Foi com grande prazer que corremos juntos, nos divertimos, ultrapassamos perigos e obstáculos, e alcançamos metas.

 
I O 1 romano. Foram várias as provas que realizaram a sua 1ª edição neste ano, e eu estive lá nas suas estreias. Desde a I meia maratona de Barcelos e de Coimbra. As primeiras edições das 24 h de Vigo e de Portugal. A I Maratona Internacional de Tânger. O 1º Trilhos do Marão e trail de Vila Pouca de Aguiar. E a 1ª edição da São Silvestre de Vila Meã. Sou totalista em todas elas, até quando??


José Manso. Conheci-o nas 24 h de Vigo. Voltei a dividir a pista com ele nas 24 h de Portugal. Um luxo poder correr ao lado de tão notável e humilde atleta.

 
Km (Quilómetros). Foram centenas os contabilizados este ano. Só em provas foram 648 km. Divididos em 20 corridas e alcançados em cerca de 87 horas de passos e trotadas. O máximo foi conseguido nas 24h de Portugal, 140 quilómetros. A corrida mais curta foi a São Silvestre de Braga, com apenas 8 km.

 
Ligamentos. Não tive lesões ao longo de 2014, apesar de ter começado o ano a curar uma micro rotura. Mas após as 24h de Portugal, tive de recorrer a tratamentos de terapia. " Fritas-te o ligamento". Estas as palavras da terapeuta ao observar o meu joelho, um dia depois de ter completado 140 quilómetros.
 

Marina Gabriel. A ela agradeço o facto de as minhas paragens por lesão serem mais curtas que o espectável. É a minha terapeuta de serviço. SOS MARINA.

 
Nostalgia. É com grande nostalgia que recordo as corridas de 2014, algumas mais que outras. Das 24 horas de Vigo guardo os momentos mais nostálgicos.

 
Onze. O meu número de dorsal nas 24h de Vigo. A mais bela corrida que fiz até hoje.

 
Pódio. Aconteceu nas 24h de Portugal. 2º lugar no escalão, sénior masculino. Na geral fiquei pelo 7º lugar. Mas teve um sabor muito especial, por ter sido a primeira vez, e por ter sido após uma larga ultramaratona de 24h.


Quatro. Mais um número muito especial porque correspondeu ao meu dorsal nas 24h de Portugal.

 
Record. Ou Personal Best. Aconteceu por 3 vezes este ano. Em Barcelos, na meia maratona, onde com 1:32h consegui o meu melhor tempo. Nas 24h de Portugal, onde somei mais 14 quilómetros que em Vigo. E muito recentemente, na meia maratona de Vilagarcia de Arousa, com um tempo de 1:29h.

 
Seiscentos e quarenta e oito quilómetros, somados apenas em provas ao longo de 2014.
 
Tânger. Foi nesta cidade marroquina que realizei a única maratona de estrada do ano. Uma muito agradável experiência, quer pelos bons e maus momentos vividos durante a corrida, quer pela oportunidade que tive de conhecer a cidade e as suas gentes. Um povo maravilhoso.

 
Ultramaratonista. Nova especialidade conseguida este ano. Em três provas ultrapassei os 42 clássicos quilómetros da maratona. Aconteceu nas 2 provas de 24h, e também na Maratona de Tânger, porque chegou aos 43 quilómetros, mais um que a distância oficial.

 
Vinte e Quatro horas vezes dois. Aconteceu num espaço de 3 semanas. Em momento algum me arrependi de o ter feito, e são provas que quero repetir mais vezes, com o propósito único de desfrutar, me divertir e fazer amigos.

 
XX Total de corridas em que participei. Duas provas de 24 h. Uma maratona. Nove meias maratonas. Duas São Silvestre. Um trail. E mais cinco corridas do circuito nacional de montanha.
 


Zero. É assim que vai começar 2015. Zero quilómetros. Zero corridas. Começa tudo de novo. Novas corridas, novos desafios, novos amigos, novas experiências, novo clube, novas viagens, novas crónicas, novos leitores, novas criticas. A mesma paixão, o mesmo empenhamento, a mesma alegria.
 


FELIZ 2015!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

km 15 - Maratona de Tânger



I Maratona Internacional de Tânger
 

9 de Novembro de 2014

 
 
 
      "...quando se tem um bom tema para escrever, o  resultado no papel é sempre bom."
  

                                                             KM 0, Linha de Partida
                                                
          


      Quero a minha mala!

       Passou mais de um mês sobre a aventura da minha 4ª Maratona, e só agora consigo partilhar convosco o bom ou o mau do momento.  Quando comecei a escrever no meu blogue, na minha primeira crónica, referi que não teria grandes dificuldades em escrever belos textos, quando a materia prima sobre a qual iria escrever fosse sobre belos momentos. Não quero qualificar esta minha experiência em solo Africano nem como bom, nem como mau momento, apenas dizer que foi uma aventura diferente. E depois da Cidade do México,  Madrid, e Frankfurt, esta maratona é  completamente o oposto de todas as outras em que participei.  Longe dos cerca de 15 mil participantes da maratona de Frankfurt. Longe dos cerca de um milhão de espetadores que  assistiram à prova na Cidade do México. Longe das excelentes organizações das maratonas anteriores. É verdade que se trata da primeira edição, mas foram cometidos demasiados erros. Os abastecimentos depois dos 21 km desapareceram. O trânsito após as 2:30h de corrida retomou a circulação. A classificação final é suspeita. Contei os atletas que iam à minha frente, e com alguma margem de erro, a minha classificação apontava para um lugar pelo 35º posto. No final surjo no 47º lugar. Provavelmente alguns atletas apanharam um táxi. Não me admira nada, eu só não o fiz porque não tinha uma moeda comigo, porque as dificuldades que passei após os 30 quilómetros, sugeriam que me dirigisse á zona de chegada de outra forma que não fosse a correr ou a caminhar.
      Mas este desafio parece estar destinado ao fracasso desde o primeiro momento em que pisamos  solo africano. Para a história do desafio e da viagem fica o fato de a Helena me ter acompanhado, ou de eu ter acompanhado a Helena nesta  sua aventura cheia de estreias. Desde longo a sua primeira viagem de avião, e a primeira viagem fora do continente Europeu.
      Tudo parece estar a correr bem até ao momento, em que aterramos em Tânger. A viagem e a escala em Madrid foi feita sem problemas. Descemos as escadas desde o Airbus, fazemos as primeiras fotos da praxe no minúsculo aeroporto Internacional de Tânger  e percorremos os escassos metros que nos separam do edifício principal sem recurso a mangas ou a  autocarros. Chegamos á zona de recolha das bagagens, e já as malas estão a circular no tapete. A Helena recolhe a dela, a minha não aparece. Soa o alarme. O momento que mais tenho temido ao longo de todos estes anos em que tenho calcorreado um pouco por todo o mundo, recai sobre mim. Pergunto ao funcionário presente no local se não há mais malas, e ele dispara um sonoro e italiano finito, como se fosse um dos mais comuns acontecimentos no aeroporto. Mais tarde tenho conhecimento de que é perfeitamente normal as malas não chegarem junto com os passageiros a Tânger. O infinito tempo que gastamos a preencher a ficha de reclamação, faz com que percamos também o transfer que nos deveria levar ao hotel.
      Antes de embarcar-mos nesta nossa viagem, elaborei um plano que nos permitisse usufruir ao máximo do escasso tempo que vamos passar em África. A maratona vai gastar-nos  algum tempo, mas dispomos ainda de largas horas para algumas visitas aos locais mais recomendados da cidade e arredores. Com este pequeno/grande contratempo, as restantes horas do dia de sábado, vão ser gastas a levantar o dorsal, a comprar novo equipamento desportivo, a jantar e a descansar. Na primeira tarefa acabamos  por despender mais tempo do que o desejado. Apesar de um grande número de táxis azuis circular pelas ruas (foram os táxis que nos recomendaram que apanhássemos, porque eram menos dispendiosos), não conseguimos encontrar nenhum completamente livre. Acontece que estes táxis são comunitários, ou seja, são partilhados por vários passageiros. Por fim pára um, e pedimos que nos leve a Dradeb, mais propriamente ao pavilhão de Dradeb. Por azar, o taxista apenas fala árabe. Tento explicar-lhe que queremos ir ao pavilhão de Dradeb. Ele apenas entende a palavra Dradeb, que é uma zona da cidade, e, quando já nessa zona, reduz de velocidade como que a convidar-nos a sair. Eu mando avançar, e vou repetindo Dradeb. Cansado de o ouvir perguntar se já pode parar, eu digo que sim, pois talvez encontremos nas ruas alguém que fale espanhol, francês ou inglês que nos indique o pavilhão. Mas, depois de alguns azares e ainda sentado no táxi, olho para a esquerda e vejo o pavilhão desportivo. Parece que a nossa sorte começa a mudar.
       Levantamos os dorsais, pedimos informações sobre onde comprar material desportivo, metemo-nos dentro de um novo táxi azul e rumamos ao centro da cidade. Compro o material que me faz falta para substituir o que ficou retido na mala. Umas sapatilhas, das mais baratas, calções e meias. A camisa não compro, vou usar a que foi oferecida pela organização da prova. Gastamos o que resta do final de dia para jantar e recolhemos ao hotel para descansar.

Cartaz da prova


          Allez!Allez!

         Domingo, dia do grande desafio. Despertar as 6h. Pequeno-almoço às 6.30h. Á saída do hotel outros dois atletas oferecem-nos boleia. Agradecemos e entramos para um dos milhares de Dacia que circulam nas ruas de Tânger. A viagem é curta, apenas um par de quilómetros. Depois de algum tempo em busca do guarda roupa, fazemos um breve aquecimento. Não há informação sonora, e quando todos os atletas se encaminham para a zona de saída nós acompanhamo-los. Não somos mais de 100 na zona de saída. Passa um pouco das 9 horas quando é dado o tiro de partida. Está lançado o desafio. O objetivo passa por fazer melhor do que nas maratonas anteriores, para isso conto com a experiência da Helena. A cada quilómetro que vamos eliminando, pergunto-lhe o ritmo a que vamos. Se bem se recordam, também na minha mala estava o meu relógio. Tínhamos  pensado fazer á volta de 5' o quilómetro, e nos primeiros estamos a cumprir.  Estamos sobre o km 7, e a Helena baixa o ritmo. Queixa-se de dor de burro, e pede-me que continue. Porque me sinto bem, avanço, literalmente sozinho. Á minha frente com cerca de 100 metros de avanço vai um atleta, atrás de mim vem a Helena. Até aos 10 quilómetros o trajeto foi um constante sobe e desce. Dos 10 e até aos 21 aproveito o desnível negativo para avançar mais velozmente. Na segunda metade da prova vamos fazer o percurso no sentido inverso. Adivinham-se grandes dificuldades, mas, porque o percurso assim convida, aproveito para aumentar o ritmo e rodar mesmo a 4'18'' entre os 10 e os 15 quilómetros. Durante estes quilómetros ultrapasso alguns atletas que vou incentivando com palavras  de  allez, allez! Completo a  meia maratona sem qualquer referência de tempo gasto. Pergunto a alguns voluntários presentes, mas ninguém me informa. Aproveito para me alimentar, apenas com alguma fruta que vão distribuindo. Tenho necessidade de alguns alimentos salgados e da minha água, mas estes estão algures entre Madrid e Tânger, assim espero.  Algumas centenas de metros após o retorno cruzo-me com a Helena. 1:45h diz-me depois de lhe perguntar o tempo. Estamos a cumprir com o objetivo. Um atleta informa-me que estou na 33ª posição. Já havia tentado o mesmo exercício após cruzar-me com os atletas á minha frente, mas perdi-me nas contas. Se até aos 21 o percurso era a descer, agora é a subir, e o vento forte do Atlântico está agora de frente. Apesar das dificuldades consigo ainda chegar á 30ª posição após passar por mais 3 atletas. Para dificultar ainda mais, os abastecimentos desapareceram, só por volta dos 30 quilómetros, um carro da organização aparece a  distribuir água ao longo do percurso.

A única foto da corrida, retirada de um vídeo promocional do evento.

       Últimos 10 quilómetros do desafio e estou incapaz de dar um passo mais que seja. A larga ausência de hidratação parece ter-me provocado sérios problemas. Sinto náuseas, paro para vomitar, o trânsito, estranhamente, retoma a circulação. Perco-me numa rotunda, e sou alertado por um condutor que me indica a direção correta. Um a um, os atletas que fui ultrapassando numa fase mais vigorosa da minha prova, vão passando por mim. Também a Helena, e precisamente no mesmo local onde a abandonei, pelo quilometro 7, passa por mim. Ainda tento acompanhar o seu ritmo, mas sou incapaz. Faço uma paragem mais longa, e vomito uma e outra vez a escassos 2 quilómetros do fim. Um carro da polícia para, e um militar oferece-me ajuda. Agradeço a água que me dá e a ajuda, mas digo que com alguns minutos de pausa me recomponho. Até á linha de meta a tarefa torna-se penosa, sofrível, mas passo a passo, trote a trote avanço em direção á linha de chegada, onde a Helena aplaude e aguarda a minha chegada. Dispenso um olhar fugaz ao relógio, e após 4h05' de prova, consigo finalmente ter acesso ao meu tempo.
       Termino sem a euforia habitual. Termino sem a satisfação de outros desafios. Termino a repetir comigo mesmo que nunca mais me meto noutra. É o sentimento habitual que me provocam os desafios menos conseguidos.
        No regresso ao hotel prolongamos o sofrimento da prova. A Helena tem cãibras e é ajudada por um marroquino porque eu sou incapaz de a auxiliar pois estou a contas com novos vómitos, que se prolongam pela tarde  durante um par de horas.


Parte do percurso plano junto á saída e chegada da prova

        
        Depois de me recompor, viajamos até ao aeroporto, onde recolho a minha tão desejada mala. O taxista que nos transporta revela-se um autêntico guia turístico, e com o seu auxilio conseguimos percorrer e conhecer alguns dos locais que tínhamos pensado visitar.
          Foi uma viagem relâmpago a Tânger, onde nem tudo correu bem. Onde os azares se sobrepuseram aos momentos de sorte, mas onde a experiência vai ficar para sempre na nossa memória, quer pelos bons, quer pelos maus momentos. Para regressar a Tânger? Sim, com toda a certeza. Para correr a maratona? Mais de um mês após a prova, a resposta é diferente da que daria no dia da prova. Sim, gostava de repetir.

Medina de Tânger


Para a estatística:

      Maratona número 4
      Tempo líquido (chip): 4h05'10''
      Classificação geral: 46 (63)
     


     Até já!

       

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

km 14 - BMW Frankfurt Marathon



BMW Frankfurt Marathon


27 de outubro de 2013

 
 
 
 
 
 
I call you when I need you, my heart's on fire.
You come to me, come to me wild and wired.
Oh, you come to me, give me ev'rything I need.

Give me a life time of promises and a world of dreams.
Speak the language of love like you know what it means.
Mm, and it can't be wrong, take my heart and make it strong, babe.
You're simply the best. better than all the rest,
Better than anyone, anyone I ever met.
I'm stuck on your heart,I hang on ev'ry word you say.
Tear us apart; baby, I would rather be dead.

I see the start of every night and every day.
In your eyes I get lost, I get washed away.
Just a long here in your arms I could be in no better place.
You're simply the best. better than all the rest
Better than anyone, anyone I ever met.
I'm stuck on your heart,I hang on ev'ry word you say.
Tear us apart; baby, I would rather be dead.

Each time you leave me I start losing control.
You're walking away with my heart and my soul.
I can feel you even when I'm alone,
Oh, baby, don't let go.
You're the best, better than all the rest.
Better than anyone, anyone I ever met.
I'm stuck on your heart

Better than all the rest.
Better than anyone, anyone I ever met.
I'm stuck on your heart
I hang on ev'ry word you say.
Tear us apart
Baby I would rather be dead.
Oh you're the best.
 
                                                                   The Best-Tina Turner


Saves energy, do not keep time. The battle is long, finish the race is our victory

         Interrompo uma vez mais a cronologia lógica das minhas crónicas, e, á semelhança do que fiz no km 11, vou recordar e partilhar  convosco um dos mais belos momentos por mim vividos, trotando sobre o asfalto.  A aventura que convosco vou partilhar, aconteceu á precisamente um ano na cidade de Frankfurt onde realizei a minha terceira maratona. A crónica foi por mim escrita, alguns dias depois, e publicada num jornal regional, o extinto Mensagens Aguiarenses.





"DANKE PAULO MACHADO


 
"Portugal! Cristiano Ronaldo!" Poderia ter sido este um dos episódio mais marcante da minha corrida, quando já em plena segunda metade da prova, um miúdo gritou á minha passagem tal expressão. Mas não. Apenas alguns metros mais atrás, um outro miúdo, de mão esticada, e saudando os atletas mais ousados que fraternalmente "chocavam" na mão do petiz, ia agradecendo pessoalmente cada gesto. Já não consigo fazer um retrato robô da cara dele, mas recordo o seu semblante triste, e que maquinalmente e de forma pausada ia dizendo: "Danke Thomas! Danke Paulo!"( Obrigado Thomas!Obrigado Paulo!). Talvez seja o típico rosto alemão. Fechado e frio. Ou talvez o semblante do miúdo fosse o reflexo do rosto de milhares de atletas, que , apesar da felicidade, alegria e satisfação interiores, apenas deixavam transparecer sofrimento, dor, mágoa. Rostos distorcidos pelo cansaço e pela dor, que apenas conseguem esboçar pequenos sorrisos por breves instantes. Corpos que se arrastam, que vão vencendo a vontade de desistir quilómetro após quilómetro. Mentes que se superam, e no meio de tanta dor e de tanto sofrimento, vão lutando por alcançar o fim a que se propuseram. Felicidade que é exteriorizada quando surge a meta, e se levantam braços, içam bandeiras, se felicitam outros atletas, se dão pulos de êxtase ou se vertem lágrimas de alegria.

Falta um minuto para o despertador do telemóvel tocar. Desligo-o, porque já não preciso que ele me desperte. A mudança de hora, a noite mal dormida, e o nervoso miúdinho fizeram questão de me despertar há já largos minutos.

O apetite ainda não é muito quando o relógio marca apenas alguns minutos depois das 7 da manhã. Sofregamente vou comendo uma taça de cereais com iogurte, algumas nozes e avelãs. Preparo café. Acompanho com fatias de pão com nutella. Enquanto aguardo o despertar do meu primo Michael, vou colocando na mochila o essencial para a corrida. Desde o relógio, água das Pedras (é a única água que consigo beber quando sinto náuseas), cremes, uma banana, e a bandeira de Portugal, para elevar bem alto se conseguir chegar á linha de meta.

Ás 9 horas, tal como tinhamos combinado no dia anterior, saímos de casa. Apanhamos o metro na estação de Lokalbahnhof ,onde tal como nós, um pequeno número de atletas aguarda a chegada do metro. Na estação de Hauptbahnhof mudamos de linha, e aqui o número de loucos que vão enfrentar os 42 quilómetros aumenta substancialmente. Chegamos á estação final, e subimos á Frankfurt Messe ( feira de Frankfurt) local de partida da BMW Frankfurt Marathon.

O grande aglomerado de atletas espalhados pelo local vai resistindo ao frio que se faz sentir. O termómetro marca 17 graus, mas o vento forte que vai soprando nesta zona da cidade faz com que o frio seja mais difícil de suportar. Faço um pequeno aquecimento de cerca de 10 minutos, mais para afastar o frio e espalhar o nervosismo do que propriamente para aquecer os músculos. Juntam-se a nós a Sílvia e o Renato. Está reunido o trio que me vai acompanhar e incentivar ao longo do desafio.

São 10h30' quando é dado o tiro de partida para os atletas de elite. O grande contingente queniano e etiope ( Quénia com 5 atletas no top 5. Top 10 completo com mais 2 quenianos, 2 etiopes e 1 francês), parte á conquista do asfalto. Ouço as últimas palavras de incentivo das pessoas que me acompanham. Faço pose para as últimas fotos. Não sinto o mesmo nervosismo da maratona de estreia. Sinto um misto de confiança e ansiedade, e a adrenalina habitual de quem está prestes a viver a grande paixão dos últimos 2 anos.

Levantam-se braços e batem-se palmas quando ás 10h37' é dado o tiro de partida para os restantes 15 mil atletas. Semi-profissionais, amadores, novos, velhos, alemães, estrangeiros, estreantes, veteranos. Todos partem com um e mesmo fim, conquistar as ruas de Frankfurt am Main.

Inicio também eu a minha investida rumo á meta. Está mesmo aqui ao lado, mas pela frente tenho um caminho tão longo e tão árduo. Os primeiros quilómetros são feitos com forte vento a dificultar-nos a tarefa. Estão galgados os primeiros 4 kms quando esboço o primeiro sorriso. Não consigo evitá-lo quando passo por uma bandeira mexicana. Afinal foi no México onde tudo começou. Ironia do destino, a segunda bandeira que identifico é a nossa. Chamo a atenção do grupo que a exibe, e agradeço o incentivo e os aplausos.

Aproximo-me com grande frescura do primeiro ponto de encontro com a minha falange de apoio. Acontece pouco depois do quilómetro 13, sobre a ponte Alte Brücke ( ponte velha). Numa altura em que começa a chover passo pelos meus primos. Algures sobre a ponte está a Silvia a fazer o registo fotográfico da minha passagem. Esboço um sorriso para a objetiva. Passo pela marca do km 14 e reparo que o gps do meu relógio se mantem na marca dos 9.3 kms. As grossas nuvens não permitem que receba o sinal do satélite, em contrapartida estas brindam-nos com uma forte chuvada que se mantém por breves quilómetros.

Venço a primeira metade da prova em 1h38'. Ainda não sinto sinais de fadiga, apesar do meu ritmo ter vindo a baixar gradualmente. Olho para o relógio quando passo pelo km 24. Não consigo ver o meu tempo de passagem. Também a função cronómetro do relógio deixou de funcionar. Fico sem referências de tempo. Consigo orientar-me pelos relógios que a organização coloca ao longo do percurso, a que tenho que subtrair os 7 minutos com que os elites saíram antes de nós.

Chegamos á localidade de Höchst, segundo ponto de encontro com os meus acompanhantes. Aqui está concentrado um grande número de espetadores. Vou saudando alguns miúdos que de mão esticada ficam felicíssimos por corresponder ao seu pedido. "Danke Paulo!", dispara um deles, de olhar triste. Olho para trás, mas já é tarde de mais para agradecer tão belo gesto. Quando olho para a frente vejo um outro miúdo extasiado, a saltar e a gritar: " Portugal! Cristiano Ronaldo!" Penso no contraste dos momentos. Um rapazinho triste que grita o meu nome e um outro felicíssimo que grita o nome do meu país e do futebolista que faz a delícia de milhares de crianças.

Solicito água das pedras quando chego junto dos meus primos. Bebo um trago e abandono a garrafa verde no passeio. O meu primo Michael coloca-se a meu lado para me acompanhar durante alguns quilómetros. Faltam cerca de 14 para o final. Trocamos algumas palavras e conto-lhe os episódios das crianças. Apesar de correr a um ritmo mais lento, o meu primo não me consegue acompanhar. Abandona-me perto do km 31, junto a uma paragem do elétrico. Estou de novo só quando ouço um atleta a meu lado perguntar: "Então, tudo bem?" Trocamos algumas palavras, e diz-me que também ele é português e que reside em Frankfurt . A bandeira que fiz questão de imprimir na camisa não levanta dúvidas quanto á minha nacionalidade. Já quanto á mensagem também impressa, ninguém faz referência, mas espero que sirva de incentivo a todos os que colocam a hipótese de desistir (" Saves energy, do not keep time. The battle is long, finish the race is our victory"-Guarda energia, não guardes tempo. A batalha é longa, terminar a corrida é a nossa vitória). Digo-lhe que estou no limite e já demasiado cansado. Encoraja-me e diz-me que estamos quase a entrar no centro da cidade, local de concentração de milhares de pessoas que nos vão levar ao colo até á meta.

Grande surpresa quando passo o km 33 e o Michael está de novo á minha espera para me acompanhar. Diz-me que se sente melhor agora, ou será que sou eu que vou demasiado lento? Vivo as últimas emoções da corrida. Estou já demasiado débil, a passada é lenta e curta. Os minutos passam a correr. Estou sobre as 3 horas de corrida quando encontramos de novo o Renato. Sorvo um pouco mais de água das pedras. Apesar da insistência do meu primo em me acompanhar mais algum tempo, digo-lhe que agora vou sozinho. Preciso de fazer uma pausa, e não quero mostrar fraqueza perante ele. Abandono-os, e um jovem espetador lembra-me que faltam apenas 6 kms. Estas palavras de incentivo funcionam como energia extra. Também repito para mim que faltam apenas e só 6 míseros kms. A 5 do final tomo nova dose de energia. Sobre a marca dos 37 kms um speaker grita: " From Portugal, Paúlo"! Não resisto a levantar os braços, a agradecer os aplausos e esboçar um sorriso pela pronúncia do meu nome.

Ultrapasso mais 1 km quando surge o inesperado. Paro para vomitar. Situação que ocorre no final de provas mais longas e duras, e que hoje foi antecipada em 3 kms. Venço as náuseas e retomo o meu rumo. É tarde demais para desistir. Nem coloco isso em causa, a meta está ao virar da esquina e o meu pensamento está fixado na glória de a alcançar. Sou acordado dos meus pensamentos por uma respiração ofegante, ruidosa, um ressonar acordado. Olho para o meu lado esquerdo e vejo um "armário" de quase 2 metros, trajando apenas o que me parecem ser uns boxers com o respetivo dorsal afixado. Os olhares de quantos se encontram a ver a corrida também estão virados para ele.

Chego aos últimos quilómetros do desafio. Nesta zona sopram rajadas de vento fortíssimas da direita que nos arrastam literalmente para o lado esquerdo da via. Entro na reta que precede a entrada no pavilhão onde esta a meta. Procuro os meus primos para receber a minha bandeira. Entro no Frankfurter Festhalle, uma enorme sala, onde habitualmente se realizam concertos . O cenário é bem ao estilo Hollywoodesco. Passadeira vermelha, jogo de luzes e Tina Turner a cantar " Simply the Best". O speaker vai agradecendo a chegada dos atletas. "Obrigado" . Consigo ouvir em bom português. Seguem-se palavras em alemão que só mais tarde consigo traduzir :" Ein Portugiese! Herzlich willkommen!" ( Um português! Bem vindo). A emoção é enorme, a alegria é gigantesca. Levanto bem alto a bandeira, o relógio marca 3h52' ( 3h 44', tempo líquido). Consigo o meu record por um escasso minuto. Não resisto a derramar as habituais lágrimas de felicidade quando ultrapasso a linha de meta.

Foram 3h44' de pura adrenalina, de grande prazer, felicidade, alegria. Com fortes doses de sofrimento e de dor. Mas este momento ninguém me tira. O momento de passar a linha de chegada é único e inigualável.

Encontro de novo o português com quem falei durante a corrida. Apenas consigo dar-lhe os parabéns, não me sai mais nada. Quero chegar junto dos meus acompanhantes. Quero dividir também com eles a minha alegria e a minha conquista. Esta corrida é deles também, que foram incansáveis ao longo do percurso. VIELEN DANK!

Para a Sílvia, o Renato, o Michael. Para os meus pais e todos os que acompanham as minhas aventuras."

                                 In Mensagens Aguiarenses ,19 novembro 2013



      Para a estatística:

      Maratona número 3
      Tempo líquido (chip): 3h44'33''
      Classificação geral: 4291
      Classificação masculina: 3912
      Classificação categoria (M35): 650



     Até já!

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

km 13 - 24 Horas de Portugal



24 HORAS DE PORTUGAL
Vale de Cambra
 

20 e 21 de setembro de 2014

 
 
 
                                               "...
                                                Amanece  tan pronto
                                                y yo estoy tan solo
                                                y no me arrepiento de lo de ayer.
                                                Si, las estrellas te iluminan
                                                y te sirven de guia
                                                te sientes tan fuerte
                                                que piensas
                                                que nadie te puede tocar.
                                              
                                                Las distancias se hacen cortas
                                                pasan rápidas las horas
                                                y este cuarto no para de menguar
                                                ..."

                                                             Maldito duende, Heroes del silencio
                                                
          


      O meu banho público e o pódio!

      São 4,55h da manhã. Aproximo-me das 17 horas de prova, e as últimas horas, a caminhar,  tenho passado a somar quilómetros enquanto alguns adversários estão a dormir. Desde as 12 horas que tenho sentido fortes dores nas pernas que vão saltando de um local para outro, e que me impedem de correr. Começo a pagar a fatura da prova de Vigo, quando passaram  apenas 3 semanas do evento. De mp3 e auriculares nos ouvidos, vou afastando a solidão e o medo nesta noite fria. A música que escuto com mais atenção vem mesmo a propósito. A minha segunda banda preferida, apenas superada pelos U2, toca Maldito Duende. Olho para trás e não vejo ninguém. Para a frente e para o outro lado da pista, e nada. Avanço como se fosse o homem mais forte do mundo, apesar de algumas zonas mais obscuras da pista me provocarem calafrios. Obrigado, esta zona é um bocado fantasmagórica. Digo, quando acompanhado da Carla André num desses locais, e ela saca de uma lanterna. A fase noturna da prova é feita quase sempre em solitário. Há pouca gente na longa pista, e os ritmos são diferentes. Assim, dá para pensar em tudo e mais alguma coisa. E pensar sobretudo se foi ou não boa ideia fazer duas corridas de 24 horas num tão curto espaço de tempo. Mas, apesar de me ir arrastando na pista, de sentir fortes dores, de já ter suportado o calor abrasador da tarde e o frio da noite, depois de já ter feito o meu banho público mesmo sem ter sido nomeado e depois de ter vencido náuseas e vómitos, no me arrepiento de lo de ayer.


       Até esta altura da prova já contabilizo 105 quilómetros. Para trás ficam algumas horas de grande vigor, as iniciais, onde fui somando voltas atrás de voltas a um ritmo de 6/7 minutos o quilómetro.  Estrategicamente introduzo voltas a caminhar após largos períodos de corrida, e faço constantes paragens na tenda para me hidratar, alimentar, ler as mensagens de alguns amigos, e matar algumas formigas. O ambiente na pista  começa a tornar-se saudável e amigável. Os atletas vão-se conhecendo, fazem-se novos amigos, dão-se conselhos e recomendações e  afasta-se a rivalidade que era de esperar.  Quando atinjo os 39 quilómetros, ás 4h23' de corrida, e porque começo a sentir ligeiras náuseas e vómitos, faço uma primeira pausa mais longa de cerca de 30 minutos.  A partir daqui o meu ritmo altera-se, e as paragens tornam-se mais longas. E sempre que tento dar duas voltas seguidas, a fase final da segunda volta é já em ritmo lento, de caminhada.
      A meio da tarde mantenho uma posição na tabela classificativa perto do top 10, apesar de não fazer parte dos meus objetivos algum lugar em concreto, apenas tentar um quilometro mais que em Vigo. 
      Perto das oito da noite, tenho já 60 quilómetros somados, e todos os atletas em pista temos oportunidade de fazer o nosso banho público. Provavelmente sem sermos nomeados. Abate-se sobre nós um forte temporal. Muita chuva. Muita e fria, demasiado fria. Com algum granizo á mistura. Dentro dos parâmetros exigidos pelo banho público, o tal banho gelado. E os meus nomeados são...
       Para o início da noite estão guardadas as surpresas. Primeiro, uma meia surpresa porque já estava á espera,  vejo a Helena e o Adriano que vieram  para me apoiar. Aproveito a sua presença para fazer uma pausa para comer alguma coisa quente. Como uma, duas, três deliciosas sopas disponibilizadas pela organização. Apesar de haver um leque mais variado de pratos e outros alimentos ao nosso dispor, apenas consigo ingerir sopa. Depois de me deixarem, e porque amanhã também eles têm uma dura prova de montanha, faço-me de novo á pista, e sou verdadeiramente surpreendido por quatro pessoas que me aguardam junto ao pórtico de meta. A Juliana, a Viviana, o Eurico e o Pedro surpreendem-me. Creio que surpreendem toda a gente, porque a animação da prova aumenta consideravelmente. Não se limitam a apoiar-me a mim, mas a todos os atletas em geral, que o diga o José Capela.
       Quando me deixam, vão muito provavelmente com a ideia de que abandonaram um amigo cansado, esgotado, derrotado, que tentava adiar o inevitável: a desistência. Certamente acertaram em alguns pontos, menos no derrotado. E desistir, NUNCA.


         Meia noite. A meio do desafio.  Doze horas concluídas. 81 quilómetros contabilizados. A partir daqui tudo é mais difícil. Começa a verdadeira competição. O cansaço começa-se a sentir. As forças começam a escassear. Frio, náuseas, cansaço, enjoos, dores, solidão, sono, fome, sede. Tudo conjugado, fará com que a noite se torne penosa e sofrível. Durante o dia a pista esteve mais animada, porque havia atletas das 3 horas em prova, porque havia música junto ao pórtico de meta, e porque em determinado momento da prova, uma procissão próxima do parque, nos oferecia música litúrgica.  Na fase noturna da prova avanço praticamente sem pausas longas. As primeiras horas da madrugada faço a correr, depois, porque as dores não me permitem, e porque o cansaço e o sono se fazem sentir, faço a caminhar. Quando o dia começa a clarear, conto já com 115 quilómetros. A 5 horas do final ocupo a 7ª posição, mas estou apenas a 10 quilómetros de atingir a minha primeira meta. Basta-me uma volta por hora, e objetivo cumprido. Desconfortável com as fortes dores que sinto, tomo um analgésico, e uso um spray que a Carla me oferece para passar nas zonas mais dolorosas. Não sei qual o fármaco que faz mais efeito, mas entre as 8h e as 9h30' dou 6 voltas á pista a uma média de 7/8' o quilómetro sem dores. Nesta fase, ás 8h41' ultrapasso os 124 quilómetros de Vigo. Mas, quando passa o efeito das drogas, as dores regressam ainda com mais intensidade. Faltam 2h30' e não aguento mais. Com mais força mental do que física, vou-me arrastando  por mais quatro voltas. Alguns atletas recomendam-me que desista, outros vão-me animando. A Flor Madureira é incansável nesta fase final, só falta mesmo que me leve ao colo. Também um ciclista que passa por mim na última volta, se oferece para me dar boleia. Não vale a pena fazer batota agora. Faltam 10 minutos e 50 metros para o final. Esgotado deito-me sobre a relva. "Se me deito, depois não me levanto", diz a campeã feminina.  Outros atletas aguardam o passar dos minutos. Alguns ainda frescos arriscam uma volta mais. Está quase a soar o gongo. Levanto-me e aproximo-me da meta. Começo a emocionar-me, e sem pensar em nada em particular, veem-me lágrimas aos olhos. "Calma, calma, já está". Segreda-me alguém ao ouvido.
      Soa o gongo. Levanto os braços e passo a linha da meta. Sinto-me o louco mais louco do mundo. Se, à um mês atrás, fazer uma prova de 24 horas era uma loucura, fazer duas num espaço de 3 semanas é loucura a dobrar. Internem-me por favor, mas deixem-me correr.

24 horas depois


      Situação inédita nas minhas aventuras, estava reservada para esta prova. Uma subida ao pódio. E que subida...Nem sabia muito bem como me comportar. Talvez devesse pôr-me aos saltos, mas a verdade é que não podia, não conseguia. E afinal, não era um primeiro lugar, apenas o segundo no escalão.



      Um agradecimento especial á organização, nota dez e obrigado por nos terem proporcionado estas 24 horas de convívio, competição e adrenalina. Um agradecimento aos restantes atletas por deixarem que corra a seu lado, e pelas palavras de animo.
         Uma grande felicitação ao vencedor Andrés Vazquez. Que máquina, fez 96.6 quilómetros. Desculpe-me Andrés, mas o mesmo número de  quilómetros tem que ser dividido pela sua esposa. Que dedicação. Que amor. Que equipa. Esteve 24 ininterruptas horas a prestar assistência ao grande vencedor. 193 Quilómetros somou a dupla.
         Uma grande felicitação para a vencedora feminina, Carla André. André, Andrés. Cá para mim isto estava combinado. Somou 145 quilómetros, e apenas cinco homens ficaram á sua frente. Vou-te confessar. Também tentei ficar á tua frente, mas sempre tive muito medo de correr em algumas zonas da pista, sozinho e durante a noite. Muito obrigado pelos bons momentos de corrida.

Na companhia do José Manso

         Vinha com vontade de esquecer a má prova de Vigo, mas uma vez mais o estomago acaba por atraiçoá-lo. Passou mais tempo a dormir do que em pista, mas enquanto esteve em pista, preocupou-se em falar com os outros atletas. Conhecer, fazer amigos, dar conselhos, incentivar, animar. Um bem haja pela tua presença na nossa prova José. E desculpa por não te ter feito companhia enquanto dormias. Mas foi muito bom voltar a correr a teu lado. Ao mais humilde dos atletas, ao grande campeão José Manso, um muito obrigado em nome de todos.

       Estou convencido de que a satisfação foi total. E que todos os presentes pensam voltar na próxima edição. Por isso apontem o meu nome. Quero juntar-me á família 24 horas de Portugal.

   P.S. Não traduzi o texto da música dos Heroes del Silencio, porque estou convencido que todos sabem um pouco de espanhol.

CLASSIFICAÇÃO DOS 23 HERÓIS


       

        Até já!
      



 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

km 12 - 24 Horas de Vigo



24 HORAS DE VIGO
 

30 e 31 de agosto de 2014

 
 
 
                                               "Heróis do mar, nobre povo.
                                                Nação valente e imortal.
                                                Levantai hoje de novo,
                                                O esplendor de Portugal."
         
          


      18 heróis e mais 3!

      Vale a pena recordar e tecer algumas considerações sobre os 18 incríveis heróis da competição individual das 24 horas de Vigo. Sobre alguns terei mais que dizer, uma vez que privei mais com uns que com outros, quer nas boxes quer durante a corrida. Apresentá-los-ei segundo a classificação final, e também como forma de homenagem da minha parte por tal proeza.

Apenas alguns dos elementos que completamos a prova.


José Manuel Conde Gonzalez, 70 anos.
      "Tengo que ser bueno. Si tanto me animan."
     O fenómeno. O craque. Alguns dos adjetivos com que foi brindado ao longo da corrida. Uma força da natureza, um exemplo, digo eu. Completou 162 quilómetros até às 22h30'. Encosta às boxes numa altura em que já não estava em risco o 1º lugar, face à compensação dada segundo a idade. Enquanto durou, quase nunca abandonou a pista. Que bom foi ver-te passar uma e outra vez por mim, e chamar-te campeon.
Luís Santiago Costa, 43 anos.
      O grande prejudicado pelo sistema de classificação. Foi o atleta que completou um maior número de quilómetros, 178. Nunca o vi nas boxes. Em passo lento e ritmado, foi somando quilómetros. Acabou as últimas horas já a caminhar. Sempre me dirigiu palavras de incentivo quando nos cruzamos. Foste enorme.
Marcos Éguia Louzán, 49 anos.
      Acaba o desafio completamente de rastos. Uma lesão na tíbia tirou-lhe força, mas nunca o entusiasmo e a vontade mental de avançar. Uma verdadeira máquina a somar quilómetros. Um total de 156. Bravo.
 4º José Rafael Gonzalez Caride, 54 anos.
      Uma lesão não lhe permite que faça a prova em ritmo de corrida. A caminhar soma um total de 145 quilómetros. A um par de horas do final da prova, um corredor de domingo, apelida-o de tartaruga. Que bom foi correr a teu lado, e pedir aquela pequena ovação, em jeito de brincadeira, para o campeon. Uma valente tartaruga, sim senhor.
5º  Fernando Ibarra Carbón, 45 anos.
       Mais um grande campeão. 154 quilómetros somados.
Manuel Dominguez De La Fuente, 37 anos.
       Que grande. O terceiro atleta que somou mais quilómetros, 157. De forma saudável preocupou-se sempre em ver a atualização da quilometragem dos adversários. Dos mais competitivos.
Pablo Dominguez Martinez, 36 anos.
       O sexto atleta que ultrapassou a barreira dos 150 quilómetros, chegou aos 154. Enorme.
Isaac Martinez Chouza, 44 anos.
      O atleta mais alto do grupo. Chegou aos 143 quilómetros.
Javier Santos Gonzalez, 40 anos.
      Deu tudo para somar quilómetros, chegou aos 142, completamente esgotado.
10º Javier Fernandez Sobrino, 56 anos.
     Abandonou a prova pouco depois das 16 horas com queimaduras graves nas virilhas. Era o segundo classificado na altura com 121 quilómetros somados. Incrível.
11º António Vazquez de Parga Benitez, 43 anos.
      Divertida a forma como permitimos que José Manso continuasse a dormir, para o alcançarmos na classificação. Somou 127 quilómetros.
12º Paulo Pereira Machado, 39 anos.
       O português, como fui carinhosamente tratado no grupo.  Cheguei aos 124 quilómetros.
13º José Manso Crespo, 42 anos.
        O sistema de compensação fez com que o campeão espanhol das 24 horas perdesse a paciência. Por mais que corresse não ultrapassava quem corria menos que ele. Destroçado, abandona com problemas estomacais. Importante pela experiência e conselhos que foi transmitindo ao grupo. Ficou-se pelos 121 quilómetros.
 14º Daniel Fernandez Cerzón, 23 anos.
         O benjamim do grupo. De louvar a bravia com que enfrentou o desafio. Tinha por meta chegar aos 70/80 quilómetros. Alcançou os 118 apesar dos problemas físicos. Foi granjeando a atenção especial de fotografas e voluntárias.
15º António Francisco Gil Alonso, 46 anos.
           Fez 79 quilómetros em 10h30', antes de abandonar a prova.
16º José Manuel Lago Costas, 43 anos.
          Uma grande bolha no pé atirou-o para fora da prova  após 16 horas. Estávamos a travar uma divertida luta pela soma de quilómetros. Ficou-se pelos 76. Lo siento amigo, el português te ha ganado!
 17º Cristina Gonzales Garcia, 30 anos.
           A  única mulher no grupo. Não estava lá para correr as 24 horas, apenas 6 e tentar bater o seu record que estava nos 74 quilómetros. Ultrapassou, e chegou aos 77. Grande campeã.
 18º Alberto Melendez Perez, 41 anos.
           Estava apenas a fazer um treino de 8 horas para uma futura prova de 24. Completou 72 quilómetros em 8h 45'.

           E naturalmente agora vou desfazer o mistério de quem são os mais três.
           Em primeiro lugar, a organização e os seus voluntários. Simplesmente nota dez. Não há nada a apontar. Todos os voluntários foram incansáveis, atenciosos, afáveis, incentivadores. E a maioria deles, senão a totalidade, também integravam equipas que participaram na prova de estafetas. Que grandes profissionais. Um exemplo para a maioria das organizações que se dizem profissionais. Talvez devam pedir o livro de instruções a Castrelos 20-30. E que amáveis e prestáveis as voluntárias que estavam nas nossas boxes. Estou convencido de que, se tenho pedido uma francesinha, fariam tudo para satisfazer o meu pedido. Que grandes, foram enormes.
           Em segundo lugar, o público. Um dos principais motivos porque tanto gosto de correr em Espanha tem a ver com o seu público. São incansáveis no apoio aos atletas, quer sejam primeiros ou últimos. São inexcedíveis.  Foi tão bom ouvir o meu nome uma e outra vez. Foi tão bom ouvir " força Paulinho". Foi tão bom ouvir-vos gritar "Portugal, Portugal, Portugal." E foi extraordinariamente bom ouvir-vos cantar "A Portuguesa", e receber cumprimentos de alguns de vós no final da corrida. Que contraste em comparação com o trail que corri na minha terra natal há apenas 3 meses.
           E por último, e porque foram os grandes animadores das 24 horas, os bravos e heroicos  atletas que corriam por estafetas. Que grande competitividade e entrega. Incansáveis. Foram verdadeiros guerreiros e estrategas lutando até á exaustão, e utilizando a melhor tática que os levasse ao melhor lugar na classificação. Apesar de terem passado por nós como autênticas flechas, foram sempre deixando palavras de incentivo aos atletas individuais. 

Fase noturna da corrida
 


      Muito mais que uma corrida!

      Diz um slogan relativo ao parque de Castrelos que: en Castrelos nunca corres solo. A frase refere-se ao facto de em Castrelos haver sempre alguém a correr. Durante esta prova senti que o significado deste slogan vai mais longe, e cada palavra de incentivo, quer por parte de atletas, voluntários ou público em geral, era como uma passada extra que alguém dava por mim. Metade da proeza é minha, a outra metade tenho que dividir, porque em Castrelos, nunca corri só.


Foto:Alexhaphotos
 
Foto: Alexhaphotos
 



     Ao contrário do que senti em outras provas e desafios, não me sinto atormentado nem nervoso pelo facto de estar prestes a viver a minha maior aventura no mundo do atletismo.  O único aspeto que me deixa apreensivo prende-se com a logística. Tenho receio de vir a precisar de alguma coisa que me tenha esquecido, ou simplesmente, não tenha considerado importante trazer para a prova. Assim, depois de ter levantado o dorsal, ter sido saudado por organizadores e voluntários, e ter conhecido o meu local a ocupar nas boxes, decido-me a trazer para a minha área tudo quanto preparei, para que nada me falte. Água ( das Pedras, claro), café, sopa, fruta, roupa suplementar, e outras pequenas coisas que achei conveniente trazer.
       O grupo vai-se compondo, vai-se conhecendo. Dão-se conselhos e recomendações. Vai-se criando um clima de rivalidade, ou talvez não. O final da prova vai-me dizer que nunca houve rivalidade, mas sim muita união, muito companheirismo e amizade. Por mais que lutássemos por ser melhores que os nossos adversários, nunca deixamos de nos motivar e incentivar uns aos outros. Fomos uma autêntica família por 24 horas.
        Depois de uma volta de aquecimento, onde se assinalava o cariz social da prova, o tiro de partida é dado, como era de esperar, às 12 horas em ponto. E uma vez mais ao contrário de outras provas, não me coloco o mais à frente possível, mas sim bem na cauda, junto de outros atletas individuais. Nas primeiras horas de corrida, ainda fresco, tenho dificuldade em manter o ritmo lento que desejo. Mantenho um ritmo entre os 7/8 minutos por quilómetro durante as primeiras 5 horas de corrida. Chego facilmente aos 40 quilómetros, mas o calor e a humidade tornam o desafio mais difícil. As paragens nas boxes são constantes, preciso de água e de me alimentar constantemente. Mais tarde vou saber que este é o dia mais quente do ano em Vigo. Ultrapasso as 5 horas de corrida, e a partir daqui começo a fazer series de 5 km, com uma paragem mais prolongada nas boxes  entre cada série, para me alimentar, hidratar e descansar.
        Soa o alarme depois de 50 quilómetros e com 7 horas já passadas. Sinto as fortes náuseas que me costumam atormentar nas corridas mais longas e mais desgastantes. Temo passar as próximas horas sem conseguir ingerir o que quer que seja. E mais grave ainda, sem poder somar quilómetros. A atenção das voluntárias está voltada para mim. Incansáveis, procuram solução para o meu problema. Alguns minutos depois já está um médico junto de mim. Curiosamente, também ele é parte integrante de uma equipa de estafetas. Depois de analisar o meu estado de saúde, recomenda-me que descanse algum tempo, que coloque as pernas ao alto e que coma alguns alimentos salgados.
           Faço-me de novo á pista depois de cumpridas as recomendações  médicas e de já me sentir melhor. Continuo a fazer series de 5 quilómetros, mas o ritmo de corrida é mais lento, e vou alternando com períodos de caminhada rápida. A minha passada lenta e arrastada começa a ser reconhecida pelos meus adversários. Em determinado momento da corrida, quando me aproximo de 3 deles que avançam a caminhar, Javier Sobrino disparou: " Me suena este ruido. Es de un português!"
           Incansáveis continuam a ser os atletas que esperam a sua vez de competir, e os voluntários que se encontram ao longo do percurso. Não param de incentivar, quer a nós os individuais, quer os estafetas. "No me importa que te enfades, no voy parar de animarte."  Nunca me zango com as palavras de incentivo. Em determinados momentos também não me faço rogado no apoio aos restantes atletas. Apenas me zango por me ver ultrapassado por tantas miúdas. Aish.
           Cumpro as 9 horas de corrida, com um total de 60 quilómetros, quando faço uma pausa para jantar. Por insistência das voluntárias, prolongo essa pausa por algum tempo mais, mas rapidamente regresso ao meu conta quilómetros. Mantenho a tática, series de 5 quilómetros, com pausas entre elas. A uma média de 5 quilómetros por hora, atinjo os 95 às 16h30' de corrida. Neste momento, dirijo-me ás boxes e solto um já chega, já não posso mais. Só quero chegar aos 100, e pronto! Tento dormir um pouco, descansar. Que inveja do José Manso que continua a meu lado a dormir como uma criança. Faz demasiado  frio, e não estou convenientemente confortável para poder adormecer. Viro-me para um lado, para o outro. Cubro-me com uma toalha. Faço nova almofada com a roupa que me sobra. Mas nem a contar carneiros consigo adormecer. Incomodado com o frio que sinto, volto á corrida. Preciso de aquecer. Faço um quilómetro, e mais outro, e um mais. Mudo a tática. Faço de 2 em 2 quilómetros, a caminhar nas zonas onde não há público, e a trotar nas zonas mais povoadas, e paro a cada serie durante 15 a 20 minutos. De 2 em 2, ás 22 horas de corrida atinjo a marca dos 110 quilómetros. Reformulo novo objetivo, chegar aos 120.  Ás 10 da manhã, cresce substancialmente o número de espetadores. O entusiasmo é maior. A luta pelos primeiros lugares nas estafetas está ao rubro. Os melhores atletas estão reservados para os últimos quilómetros. Correm como nunca. Os incentivos fazem-se ouvir mais insistentemente. Não há quem tire os olhos do circuito. Já mudei 2 vezes de camisa, nas primeiras trazia o meu nome impresso. Nesta já não trago. Mas estranhamente, as pessoas continuam a tratar-me pelo meu nome. Por vezes, carinhosamente tratam-me por Paulinho. "Animo Paulinho. Vamos p'arriba." Não me faço rogado e mantenho um  ritmo de corrida, lento mas contínuo. Caminhar nesta altura da prova nem pensar. Ás 11 horas chego aos 116 km. Faço as minhas contas, e com um ritmo de 10' o quilómetro, e com paragem nas boxes de tempo igual, a marca dos 120 está no papo. Mas esta última hora torna-se especial. Afinal em Castrelos  nunca corres só. E se aumenta o número de pessoas presentes, aumenta também o número dos que correm por ti. Já não faço paragens longas, apenas o suficiente para tragar um pouco de água e regresso à pista. Mantenho a passada arrastada porque a força escasseia, e levantar as pernas é missão quase impossível. Às 11.40' faço a última paragem nas boxes, com uma missão suplementar. Coloco a bandeira de Portugal sobre os ombros e troto para a linha de meta onde cumpro a volta número 121.  Faltam 18 minutos para o final. Duas voltas e missão cumprida. O que se passa a seguir nem eu sei explicar. O mesmo atleta que há já largas horas vinha a arrastar os pés começa a ganhar força. A passada é larga. Consigo rivalizar com grande parte dos estafetas. Cumpro uma volta mais, em menos de 5 minutos. Pelo caminho emociono-me quando ouço gritar: Portugal, Portugal, Portugal. Parto para uma volta mais, agora acompanhado por um voluntário. Digo-lhe que vamos dar  2 voltas. Tem dificuldade em aceitar, mas tenta manter o meu ritmo, mas desta vez vou mais lento.  No mesmo local onde na volta anterior ouvi gritar o nome de Portugal, cantam-me agora A Portuguesa. Não consigo olhar as caras de quem continua a incentivar-nos, mas muito provavelmente estão tão admirados quanto eu. Nova chegada á meta, e o meu voluntário tem que ser substituído. Que maldade Paulo. Ainda faltam 7 minutos. Digo-lhe que vão ser 2 voltas mais. Mas desta vez compadeço-me do meu voluntário e reduzo o ritmo. Paramos mesmo ,para deixar passar os minutos. Faltam menos de dois minutos para soar o gongo. Recomeçamos a correr. Quando passo pela zona onde ouvi a maior parte dos incentivos, agradeço o apoio que me deram. Mesmo a correr, faço pequenas vénias e aplaudo. Repito semelhante gesto na zona que precede a meta. Também o público é vencedor. Também o público me ajudou a cumprir o objetivo. Não ganhei. Também não perdi. Alias, ninguém perdeu. Quando cada um dá o que tem e o que não tem, não se pode considerar perdedor. Todos ganhamos. Castrelos ganhou.




 
O abraço especial de José Manso

      
     As lágrimas no final da prova são inevitáveis. Começam a ser um costume. Talvez tenha estranhado a falta de apoio de alguém mais próximo, apesar da muito agradável surpresa a meio da tarde de sábado ( obrigado Viviana e Pedro ). Talvez quisesse partilhar a minha alegria no final com alguém especial. Ou talvez quisesse dizer a quantos me disseram para ter juízo, que não sou fácil de derrotar. A verdade é que vivi a mais bela jornada de atletismo em que participei. Por isso foi com muita emoção que recebi abraços e felicitações de quem correu a meu lado, ou de quem me viu correr. "Como venias y como has terminado. Te felicito."  
        Para repetir?
        Se for em Castrelos, claro que repito.

Entrada para as 3 voltas da consagração

            
            Até já!