segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Km 11 - XXX Maratón Internacional de la Ciudad De Mexico




 XXX
Maratón Internacional de la Ciudad de México

 

2 de setembro de 2012

 
 
 
                                   "Llora, grita, que se te caiga una uña del pie,
                                     hazte del baño en tu
                                     short....
                                     Pero, no dejes de correr!!!"
                                                
                                                        
Comprovativo de inscrição


                                         
          Sangue, suor e lágrimas!

         Interrompo a cronologia lógica das últimas crónicas, para fazer uma viagem no tempo e recordar convosco aquela que foi a minha primeira grande aventura de sapatilhas, dorsal e chip.
         Dois dias apenas após as 24 horas mais loucas que vivi, onde passei por diversos estados de espírito que mudavam a cada minuto do desafio, e ainda a digerir as emoções da prova, não consigo classificar qual das experiencias me deu mais gozo enfrentar. Em momento oportuno falarei das 24 horas de Vigo, mas agora é hora de celebrar o 2º aniversário após a minha estreia em maratonas. E que melhor local para me estrear senão a minha cidade de eleição?
          A pedido de um jornal regional, e porque na altura ainda não tinha blogue, escrevi uma pequena crónica sobre o que vivi naquela célebre manhã de 2 de setembro de 2012.



"A CIDADE A MEUS PÉS

São seis da manhã e o metro é gratuito para os corredores. O polícia pede-me que coloque o meu número. Saio da estação San Cosme, em direção a outra estação, a de Zocalo. O metro já se apresenta cheio de atletas que mostram algum nervosismo. O céu está estrelado, a noite ainda paira sobre a cidade. Às 7 horas, uma banda militar toca o hino nacional mexicano e, pouco depois, é dada a partida para as atletas femininas. Às 7.20 horas, escuta-se o tema musical do filme "Rocky". É hora de dominar o medo e de desfrutar a minha primeira maratona. O Zocalo atravessa-se ao som de foguetes. A cidade está a meus pés. Sinto-me poderoso ao atravessar o "Paseo de la Reforma" e as ruas de  "Polanco", geralmente saturadas de automóveis, mas hoje preparadas para render tributo a todos aqueles que trotam pelo prazer de sentir a adrenalina que os leva a levantar os pés uma e outra vez. Ao passar pelo túnel do "Chivatito", ouve-se alguém a gritar: “Já se cansaram?”. Os corredores respondem: “Não”. Pelo caminho, vão-se escutando as vozes incansáveis das cerca de 1 milhão de pessoas presentes nas ruas: “Si, se puede. Si, se puede. Si, se
puede”, com algumas dessas vozes dirigidas a atletas em particular. E  foi com prazer que fui escutando uma e outra vez frases como: “Vamos, Paulo. Ânimo, Paulo” (colocar o meu nome na camisa foi boa ideia!), como se cada uma daquelas vozes representasse a minha família ou os meus amigos. Já havia corrido 20 quilómetros, a uma média de 46 minutos por cada 10 deles. Mas, ao chegar aos 30 km, quando começa a extensa reta de "Insurgentes", começo a ter os primeiros problemas físicos, começam a atormentar-me as cãibras, primeiro uma coxa, depois a outra. Ouço alguns incentivos de outros atletas e a oferta de ajuda por parte de alguns que desistem, porque uma pausa colocá-los-ia na mesma situação que eu. Depois das cãibras, novo problema surge: é necessário descobrir um restaurante aberto, onde possa aliviar problemas intestinais. Tudo parecia perdido. Havia perdido o bom ritmo que vinha apresentando, as forças vão-se, falta uma eternidade para chegar a "Reforma". Faltam 7 quilómetros e atormenta-me a ideia de desistir. Não me imagino a regressar a casa com esse fracasso. A dor seria maior.
Aos 35 km, com 2 h 57 m já passadas, a meta de baixar as 3 h 30 minutos parece uma miragem. É hora de sofrer. Todas as pessoas que estão na rua são incansáveis no apoio: dão “bolsitas” com refrescos, gomas e caramelos. Os miúdos acham muita graça em poderem oferecer uma laranja e poderem gritar: "Ya falta poco. Si, se puede". Uma voz mais estridente alerta-me: “Não pares de correr, eu não paro de gritar". A correr os últimos quilómetros de forma mais lenta, quase já a caminhar, vai dando para observar tudo o que me rodeia mais ao pormenor, podendo ler os muitos cartazes que vão apoiando alguns atletas.  Alguns deles muito interessantes, curiosos, cheios de humor, como um que dizia: “Mas despacio, mi papa viene atrás" (“corram mais devagar, o meu pai vem atrás”). Aproximo-me do Zocalo, entro na "20 de Noviembre". Avisto a meta ao fundo, falta pouco mais de um simples quilómetro. Está perto o meu momento de glória. Lembro- me de todos os que disseram que eu iria conseguir. A 200 metros da meta, procuro a bandeira portuguesa entre o público, vejo-a nas mãos do meu amigo Abraham que me espera e me vai procurando entre o grande número de atletas. “Roubo-lha” das mãos e só então ele repara que estou prestes a viver o meu momento de glória. É hora de correr para a meta, com a bandeira pelos ombros, já não há força para a levantar mais alto e viver, triunfante, o grande momento, lembrando as vozes de fundo, ao longo da corrida: “Si, se puede!" E eu consegui. Caminho em silêncio por entre atletas triunfantes que recebem os parabéns de familiares e amigos. Veem-me lágrimas aos olhos. Alguém me pergunta: "De Portugal?". Com orgulho, respondo que sim. ISTO É A GLÓRIA."


                                 In Mensagens Aguiarenses ,11 setembro 2012

Passagem pelos 10 km


O momento de glória

      Depois de transcrever o texto para o blogue, veem-me de novo lágrimas aos olhos. Não resisto sempre que recordo a emoção do momento.
      E porque não refiro dados finais referentes á minha corrida na crónica, aqui ficam para a posteridade.

      Para a estatística:

      Maratona número 1

      Tempo líquido (chip): 3h46'34'' ( a 1h30'42'' do vencedor)
      Classificação geral: 1283 (7948 inscritos)
      Classificação masculina: 1122 (6447 inscritos)
      Classificação categoria (35-39): 204 (1089 inscritos)

     Até já!

 

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